Por Ana Carolina Caldas
A gente já sabe que existem inúmeras violências contra a mulher. Além da física. Todas elas nos constrangem. A gente se constrange para contar que caiu nessa e se deu conta muito tarde...sim. São vários os motivos, mas um deles é ter vergonha. É isso mesmo. A sensação é de ser uma otária, uma boba, apesar de tão “informada” e “empoderada”. Mas, esse medo e essa vergonha vem diminuindo porque as mulheres tem se ouvido mais e acolhido mais. Afinal, são poucas as que não passaram por algum tipo de violência oriunda do machismo abusivo, etc, etc, etc.... Pessoalmente, o ano que passou eu fui ouvida e acolhida porque tinha o que contar, tinha o que desabafar e busquei em outras mulheres ajuda e o entendimento do que eu havia passado. A gente sempre acaba “naturalizando”, sempre acha que, afinal, “vai superar sozinha”, acha que “é assim mesmo”, e se constrange. Mas, o amontoado de coisas acontecendo faz “o copo vazar” e não dá para segurar. Violência emocional pode ser o começo e a entrada para muitas outras.
Radicalizar o “eu não consigo suportar isso” é o que nos cura. Radicalizar o “isso não é normal”, “isso não é engraçado”, “isso não é eles são todos iguais”, “isso não é algo que acontece com todas”, “isso não é loucura sua” ou “isso não é exagero seu”....é o que nos salva e nos une. Ser ouvida para não se achar louca, é maluco, mas é isso mesmo. Ser ouvida para não ser julgada fraca, exagerada, etc. etc Nenhuma mulher que passa por isso é vítima, mas é alguém que entendeu tarde o que estava acontecendo... Sim, eu pude ouvir mulheres que passaram por situações semelhantes, também. Tem sido uma das melhores partes do meu ano, essas acolhidas e estes aprendizados. Vamos continuar nos ouvindo. Escrevi isso tudo aqui com muita vontade porque acho que é falando que a gente vai se entendendo dentro desse sistema que invisibiliza violência e abuso emocional. Estou aqui para quem precisar. E agradeço a todas as amigas e as mulheres que pouco conhecia, que me ensinaram, me acolheram e me ouviram e me disseram "estou do seu lado".
Ana Carolina Caldas - Jornalista do Brasil de Fato - PR.
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