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Foto do escritorCuritiba Suburbana

O Apelo de Uma Fã a Paulo Coelho Sobre a Suspeita levantada contra Raul Seixas Por Jotabê Meireles



Há poucas horas tomei conhecimento sobre uma notícia que me abalou bastante. A notícia é sobre uma biografia de Raul Seixas, chamada “Não Diga Que A Canção Está Perdida” que será lançada no dia 1° de Novembro e que foi escrita por Jotabê Medeiros, repórter e crítico musical.

Procurei informações em vários sites e revistas e todas estão noticiando a mesma coisa.

O autor da biografia fala sobre uma suspeita de Paulo Coelho de que Raul o teria delatado para o Dops (Departamento de Ordem Política e Social da Ditadura Militar), cita que o autor encontrou documentos da época no Arquivo Público do Rio de Janeiro, que esses documentos não são conclusivos, mas que neles consta que “por intermédio do referido cantor (Raul Seixas), seria possível chegar até Paulo e Adalgisa (namorada de Paulo à época). Em resumo, o que o livro traz é uma revelação perturbadora, a de que Raul traiu Paulo Coelho, entregando-o à Ditadura.


Quando questionado sobre o assunto, Paulo Coelho, ao que parece, desconversa, mas em um comentário no Twitter na última quarta-feira, 23 Paulo escreveu: "Fiquei quieto por 45 anos. Achei que levava segredo para o túmulo."


Após a repercussão, Coelho apagou o comentário e voltou a escrever: "Não confirmei e não confirmo nada. Eu apenas vi o documento e me senti abandonado na época". Depois afirmou que o autor da biografia só quer vender o livro.


Outra resposta de Paulo Coelho, quando procurado para falar sobre o caso foi: “Não sou do tipo de pessoa que gosta de ficar olhando para as chagas já cicatrizadas”, diz por e-mail à Folha de São Paulo.


Pensei muito antes de escrever sobre isso. Quem me conhece, quem conhece a minha história de vida, sabe o quanto Raul Seixas representa para mim e a quem não me conhece, basta dizer que dei seu nome a meu primogênito em homenagem a ele, para que tenham uma breve ideia, por tanto, eu não poderia escrever essa matéria como escrevo sobre qualquer outro assunto para essa revista. Tenho que fazer da maneira mais honesta possível e desse ponto em diante, assumir que quem escreve não é mais a colunista, nem a editora da Curitiba Suburbana, nem a poeta Ana Campos, quem escreve daqui em diante é a Adriana, a fã, a admiradora, a menina que Raul Seixas impediu de cometer suicídio aos quinze anos de idade e a quem ele fez companhia, mesmo que simbolicamente, durante toda a sua adolescência e boa parte da vida adulta, a jovem que ele inspirou, que ele encorajou a escrever e a acreditar que ela era sim uma poeta, que o que ela escrevia tinha valor, mesmo ela mal tendo terminado a quarta série do ensino fundamental. A mulher de vinte e seis anos que ele convenceu a voltar a estudar e correr atrás dos sonhos e que fez tudo isso com suas músicas, com suas ideias, com seu poder de despertar o que há de melhor nas pessoas, mesmo estando presente apenas de maneira subjetiva.


Pra falar sobre esse assunto meramente como profissional, eu teria que ocultar todos esses fatos do leitor, para não parecer movida apenas por emoções ingênuas, então, pela gravidade do caso, dou-me aqui o direito de deixar o profissionalismo de lado e falar como alguém que está se sentindo pessoalmente prejudicada pelo conteúdo da citada biografia e sei que não falo somente em meu nome, falo em nome de milhares de fãs e admiradores de Raul, espalhados pelo país inteiro, quem sabe até, pelo mundo.


Contudo, não escrevo com o intuito de rebater as acusações do biógrafo, não tenho, até o momento, elementos ou informações suficientes para, sequer, tentar questionar as suspeitas levantadas por ele no livro, até porque a biografia ainda nem foi lançada, mas os fatos estão ai e são graves as acusações.


Também não escrevo para concordar com o que está sendo disseminado. Para mim, pensar que Raul tenha sido capaz de cometer uma traição tão terrível como a que o estão acusando, é sentir meu coração sendo rasgado; minhas crenças e minhas ilusões em relação ao ser humano, sendo derrubadas.


A qualidade que mais prezo na vida é a lealdade, e um dos seres humanos que mais prezo nesse mundo é Raul Seixas, e se alguém está me dizendo que o ser humano a quem mais admirei a minha vida toda é um traidor baixo e vil, então essa pessoa está me dizendo que toda a minha vida foi uma mentira, que tudo em que eu acredito em temos de força emocional e de caráter, é uma farsa e que a semente que germinou minha autoidentidade é podre, é banal.


Sei que nem todas as pessoas conseguirão compreender minha relação com Raul, pelo fato dele ser apenas um cantor, um ídolo, mas sei também que muitas outras compreenderão. Todos nós temos uma referência na vida, no caso de pessoas que nascem em uma família bem estruturada, essas referências normalmente são da família, pai, mãe, irmão, mas nem todo mundo tem a sorte de encontrar isso entre os seus, essa base emocional e psicológica, essa base moral e espiritual para a formação da personalidade, e quando não se encontra isso entre os seus, algumas vezes, encontramos em ídolos, em heróis, em pessoas a quem admiramos por alguma razão, essa pessoa para mim, e sei que para muitos outros, foi Raul Seixas com sua música, com sua mensagem, com sua ideologia, foi assim que ele me ensinou a superar a mim mesma, as minhas próprias fraquezas e a seguir em frente. Hoje vem um cara qualquer e diz que Raul não passava de um vil traidor, de um covarde capaz de entregar o melhor amigo para a Ditadura, justamente a Ditadura, um regime que eu repudio.


Eu gostaria, com todas as forças da minha alma, de poder estar aqui derrubando essa acusação, destruindo os argumentos do autor da biografia e talvez até, agredindo verbalmente a ele e ao próprio Paulo Coelho, a quem nunca tive muita simpatia, já por causa da sua relação mal explicada com Raul, mas infelizmente não posso, não conheço a verdade dos fatos e sou obrigada pelo meu senso de justiça a admitir que se a acusação for verdadeira, talvez eu deva até desculpas a Paulo Coelho, afinal, se a razão da mal explicada relação entre os dois for mesmo essa, então Paulo tinha razão o tempo todo, porque isso não é algo que se possa relevar, perdoar é uma possibilidade, mas relevar? Seguir em frente como se nada tivesse acontecido? Não, não acho possível.


Por tudo isso, faço um apelo a Paulo Coelho que é a única pessoa no mundo capaz de elucidar essa questão, que é a única pessoa no mundo que sabe a verdade e é a única pessoa no mundo que tem o dever moral de não mentir e de não se omitir nesse caso.


Não importa qual seja a resposta, Paulo, agora que a questão chegou ao conhecimento público, que chegou até nós, admiradores de Raul, é preciso que ela seja dada por você, seja para confirmar ou para desmentir, somente você pode esclarecer essa suspeita.


Mentir seria um crime moral, omitir-se, uma indignidade, porque não se está falando de qualquer um, se está falando sobre uma pessoa que influenciou milhares de outras e que tanto pode estar sofrendo a maior de todas as injustiças sem estar aqui para se defender, como pode ter sido a maior de todas as fraudes na vida de muita gente. Você percebe a gravidade disso tudo? Tenho certeza que sim. Por isso, o meu apelo é para que você quebre o silêncio e diga a legião de fãs, seguidores e admiradores de Raul, qual é a verdade sobre a suspeita levantada na biografia “Não Diga Que A Canção Está Perdida”, senão por você, que deseja colocar uma pedra sobre o passado, mas por todos nós, fãs de Raul e até pelos seus próprios fãs. Embora a verdade seja relativa, Raul Seixas não está aqui para nos contar à história do ponto de vista dele, você está, então, a única verdade que podemos conhecer agora é a sua.


De alguém que precisa descobrir essa verdade, fica aqui o apelo:

Paulo Coelho, você acredita que Raul Seixas te traiu e te entregou para a Ditadura Militar?


Espero que esse texto chegue até a você e que nos responda com toda a sinceridade da sua alma.



Ana Campos.



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