Por Dani Netussi
Sim, é necessário fazer uma autocrítica.
Se tivessemos sido capazes de imaginar um sistema verdadeiramente libertário e igualitário, jamais ele teria sido rejeitado. Jamais.
Mas fizemos o mesmo daquilo que pretendíamos modificar.
E esse “mesmo” não está nos resultados, nos formatos, nos sintomas. Está no próprio desejo.
Se realmente tivemos desejado um sistema real e não mais um sistema ideal, um modo de existir gerado a partir de relações, dos encontros, das experiências, e não da busca de mais verdades, de mais absolutos, não estariamos no mesmo.
Desejamos o mesmo e no mesmo ficamos.
Não somos capazes de viver a partir da própria vida. Vivemos a partir da ideia de vida.
Não amamos a partir da experiência do encontro. Amamos a ideia do amor.
Estando completamente afastados da experiência do real, afastados da experiência de nós mesmos, só conseguimos conceber ideias de igualdade. Não somos capazes da igualdade real.
Não vai adiantar, e não adiantou, ficar criando novos modelos porque o problema está em querer modelos.
A vida não se faz de modelos. Ela flui sem se preocupar em repetir nada. A vida sabe que é impossivel repetir. Ela é uma ode à criatividade.
Viver sob modelos, sob arquetipos, sob estruturas, não é viver. É brigar com a vida.
E por isso deus só pode ser movimento infinito porque é criação constante de tudo e de si mesmo. Se modifica todo o tempo.
E por isso filosofia só pode ser prática.
Quando formos capazes de viver uma vida real, onde a igualdade for real, onde a singularidade for real, onde a afetividade for real, todos os sistemas ruirão imediatamente.
Quem está sustentando esse mundo mentiroso somos nós. Todos nós. Em modos diferentes de entendimento, mas não estamos diferindo realmente. O mundo ideal é o mundo fake. E por isso estamos nos afogando nas mentiras de tanto que quisemos impor verdades fixas.
Nos falta uma única coisa para viver a Vida real: coragem.
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