Cobrador de Ônibus

Uma profissão em extinção

" O Brasil vai de mal a pior, e por aqui não é diferente. Um projeto da Prefeitura de Curitiba enviado para a Câmara Municipal em Outubro de 2018, propôs extinguir a profissão do Cobrador de ônibus ".

Apesar de o projeto não ter sido integralmente aceito a princípio, quando uma comissão aprovou o texto em Abril de 2019, dois meses mais tarde, depois de sofrer uma pequena alteração e de ser renomeado como “substitutivo”, a proposta acabou sendo aprovada, com a diferença que, após as alterações, a extinção será gradual e não mais abrupta como havia sido inicialmente proposto.

Vendo pelo lado cínico da coisa, somos levados a concordar que o uso exclusivo do cartão, ao invés de dinheiro nas catracas, pode realmente melhorar um pouco o fluxo dos passageiros e diminuir o tempo do embarque e desembarque, mas daí a acreditarmos neste argumento da Prefeitura como sendo o nobre propósito que a levou a querer acabar com uma profissão que emprega, em média, quatro mil pessoas na cidade, seria como acreditar em papai Noel. Certamente os interesses que estão sendo defendidos nesta empreitada não são os dos passageiros, pois ter a opção de pagar a passagem com dinheiro é até melhor do que ficar preso a necessidade de recarregar o cartão, sob pena de não conseguirem pegar os seus ônibus, isso sem falar nos transtornos que podem ocorrer, em caso de perda ou roubo do mesmo. As vantagens para o usuário do transporte público de Curitiba são poucas e não justificam a extinção de quatro mil postos de trabalho, em um país onde o desemprego é um dos maiores problemas enfrentados pela população. Talvez eles possam usar também o argumento de que esta medida vai acabar com os assaltos no interior dos veículos e mais uma vez devo lembrar que os interesses defendidos aí, novamente não são os dos passageiros, porque os assaltos continuarão, a diferença é que agora os assaltados serão somente os passageiros e não mais a empresa de ônibus, uma segurança pública eficiente, com toda certeza teria mais eficácia para ambos os lados.

O projeto prevê, no processo de redução gradual do número de postos de trabalho, que haverá o remanejo de parte do efetivo qualificado para preencher outras funções dentro da empresa e que os que ainda não tenham qualificação, serão qualificados. Creio que não ocorreu a nenhum dos nobres vereadores que essa promessa é incoerente com a finalidade do projeto, qual seja, exatamente, reduzir postos de trabalho. Pelo texto e a maneira como eles pregam, surte impressão de que ninguém ficará desempregado, de que não haverá qualquer prejuízo aos trabalhadores, no entanto, está previsto também, acordos de demissão voluntária.

A menos que os trabalhadores tenham acreditado na boa intenção da Prefeitura em melhorar a vida dos passageiros da cidade, está claro que este projeto pretende reduzir os gastos das empresas de ônibus para manter ascendentes os lucros dos empresários, porque para eles, o importante é o enriquecimento contínuo, a manutenção de uma porcentagem de lucro que seja sempre vantajosa, independente de quantos haverão de ser sacrificados. Eles reclamam do alto custo para a oferta do serviço, agravado pelas altas dos combustíveis, pela crise econômica e tudo o mais, por isso a desvantagem tem que ficar com o funcionário, ou com os usuários do serviço. Será que alguém já se perguntou por que eles simplesmente não cortam pela metade a sua margem de lucro para não ter que demitir funcionários, nem reajustar uma tarifa que já é a mais cara do Brasil? É porque esse é o jogo do neoliberalismo e a única parte que cabe ao trabalhador é pagar a conta, e ficar com o efeito colateral da ganância e do egoísmo das elites. O que me choca é saber que, mesmo assim, ainda existem trabalhadores acreditando que este é o melhor sistema de governo para o nosso país.