O que a vitória de uma sul-africana no concurso de Miss Universo, diz sobre o atual cenário político-ideológico no mundo? Por Ana Campos
Em tempos de guerra ideológica, onde a anomalia fascista ganha força e reaparece no mundo, especialmente no Brasil, a vitória de Zozibini Tunzi, que levou o título de Miss Universo 2019 no último domingo, pode ser interpretada como uma demonstração de que nem tudo está perdido e que, apesar de estarmos estarrecidos com a crescente onda de adeptos e admiradores de ideologias destrutivas, como o nazismo e o fascismo, aqueles que lutam pela democracia, pela igualdade e pela liberdade, continuam figurando em todos os meios mais expressivos das sociedades e ainda têm forças para contrapor a injustiça pregada pela extrema direita.
O concurso de Miss Universo, embora possa ser interpretado como algo fútil, relacionado apenas à beleza física, nesse cenário representa um ato simbólico de resistência.
Quando a beleza negra é eleita oficialmente a mais bela do mundo, a sociedade está dando uma resposta aos racistas que compõem, em grande parte, os membros e adeptos do fascismo no mundo. A sociedade está respondendo à figuras influentes que, aproveitando a onda fascista, querem destilar seus preconceitos abertamente e enfiar goela abaixa da senso comum uma normalidade no comportamento racista, incentivando os seus pares a desinibirem esse desvio criminoso de caráter, para torná-lo regra geral e palavra de ordem no cotidiano do país.
Um exemplo dessa tentativa de banalização do racismo veio de Silvio Santos, no mesmo domingo (8), quando o apresentador mudou as regras do quadro 'Quem Você Tira' depois da vitória de uma mulher negra, causando grande constrangimento.
Veja a matéria no link:
Racistas de todas as classes sociais brasileiras vêm se revelando como se fossem reprimidos que se rebelam, sentindo-se incentivados por esses formadores de opinião e empoderados pelo “liberalismo” do novo governo, um liberalismo colocado aqui, não no sentido econômico, mas no sentido ético, ou na falta dele. Todos os dias lemos notícias que nos reviram o estômago, como a dessa mulher com seu ataque de loucura, no qual parecia verdadeiramente indignada com a repressão a sua ignorância, a sua agressão gratuita, a sua baixeza humana.
Sentimo-nos desesperançosos ao vermos que essa onda já segue além do fascismo, chegando a configurar ideologia nazista, sendo alimentada e ressurgindo com uma força surpreendente, em todos os setores das sociedades e percebendo que, nem todo o sofrimento vivido na história humana, causado por essas ideologias destrutivas, foram capazes de conscientizar os indivíduos, quanto à perniciosidade desse comportamento amoral.
Mas, em meio ao caos, recebemos o balsamo de testemunhar a beleza negra de uma sul-africana, sendo coroada, sendo reconhecia, como um selo de igualdade racial que nos reuni em um mesmo status, o de mulheres, cidadãs pertencentes a mesma raça humana e isso é um ato de resistência.
A eleição de uma Miss Universo, negra e africana, nesse momento de embate político, ideológico e moral no mundo, significa que, apesar de tudo, boa parte da humanidade mantém-se lúcida, em detrimento à loucura generalizada e inacreditável que estamos testemunhando. Esse surto que chega a ser absurdamente impensável, em que temos até mesmo, negros racistas, tentando dominar mecanismos de combate ao preconceito.
Vivemos uma tentativa de banalização da injustiça e de ostentação da amoralidade como qualidade nobre de indivíduos que reivindicam superioridade. Vivemos uma era em que o dinheiro compra até mesmo consciência dos seres humanos. É o caso do novo presidente da Fundação Zumbi dos Palmares, Sérgio Nascimento Camargo, um negro que nega a existência do racismo, que alega que a escravidão foi boa para os africanos e que pede o fim do movimento negro. Veja no link baixo:
Por tudo o que estamos vivendo, a eleição de uma Miss Universo, negra e africana, significa que esse surto de loucura no mundo, e especialmente no Brasil, nada mais é do que isso, um surto, que a resistência há de vencer, desde que não percamos a fé na humanidade, ou na parte dela que ainda mantém a justiça como principio básico para uma convivência pacífica entre os Homens.
Essa última imagem, simboliza exatamente o modo como pensam as pessoas que defendem a ideologia nazifascista no mundo.
Ana Campos.
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