Coluna Rimas e Cismas - Por Cláudio Ribeiro
Começo por dizer que o racismo no Brasil tem sido um grande problema desde a era colonial e escravocrata imposta pelos colonizadores portugueses. O negro sempre sofreu, e continua sofrendo, por exemplo, no Paraná, a tendência a desaparecer, devido ao embranquecimento: na capital do estado, tem por força da mídia local e nacional de diversas maneiras de propagação e eu destaco - capital das etnias. Claro que há misturas – soma de vários povos – Etnias tantas que trouxeram em suas bagagens sua cultura. Mas pouco se sabe da presença africana na capital paranaense. Será que há verdadeiramente uma “democracia racial” que expressa na ideia da capital das etnias? A característica mais marcante do racismo brasileiro é seu caráter não oficial.
Não tenho duvidas que a mestiçagem, vista como o "clareamento" da população curitibana, criou raízes profundas na sociedade no início do século XX com consequências que chegam aos dias atuais. Esse clareamento facilitava a entrada imigrantes europeus e os negros que aqui vieram muito antes e formaram nossa cidade foram abandonando a sua cultura africana, substituída por valores brancos.
Como estamos no mês de novembro, mês da Consciência Negra, e em todo Brasil é celebrado em novembro o mês da Consciência Negra, reforço minhas críticas e reflexões. O dia 20 de novembro, data relacionada à morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, situado entre Alagoas e Pernambuco. Em muitos lugares é feriado por força de lei, só em Curitiba é que não. Olha o embranquecimento aí. Lembrei de que a ideia de que negros, brancos, indígenas e tantas outras raças e etnias vivem em paz e possuem direitos iguais no Brasil começou com a obra do sociólogo Gilberto Freyre, em seu livro Casa-Grande & Senzala, porém, com o passar dos anos, ela acabou sendo negada. Ainda bem. Mas assim como todo movimento social, o movimento negro possui suas pautas e as defende e em Curitiba não é diferente.
Somente com a união, e não com a segregação dos povos, é possível lutar para a conquista de direitos. Mas, para reconhecer essas contribuições é preciso voltar no tempo. É preciso saber quem foram, verdadeiramente, os negros que deixaram suas raízes em Curitiba. Andando pela cidade encontramos homenagens a grupos migratórios, "etnias", a saber: Praça do Japão, Portal Italiano de Santa Felicidade, Parque Tingüi (memorial da imigração ucraniana), e o Bosque de Portugal. Bosque Alemão, Polonês, etc... Poderia citar outras praças, mas caminhando um pouco mais e, para muitos passa despercebida na Praça Santos Andrade (no centro da cidade), uma placa em bronze com uma dedicatória "à colonia afro-brasileira". A "homenagem" da Câmara de Vereadores de Curitiba à "etnia negra". Poucos sabem dessa existência e desse reconhecimento. Muito pouco, quase nada. Meu amigo, mestre e parceiro Ismael Cordeiro, Mestre Maé da Cuíca – fundador da primeira Escola de Samba do Paraná – Colorado - dizia sempre que Curitiba sempre foi uma cidade “louca para embranquecer tudo”. Forma simples de dizer que há racismo.
Como não pretendo fazer um estudo formal, científico, ou de caráter acadêmico, quero deixar registrado aqui na coluna, que as pessoas, nós todos, precisamos ter consciencia da importância da raça negra e de sua cultura na formação do povo brasileiro e da cultura do nosso país. Conhecer melhor sobre os afro-descendentes que fogem ao estigma da escravidão. Então quero fazer de público um reconhecimento a uma grande mulher. Enedina Alves Marques. Era filha de um casal que chegou ao Paraná com o êxodo rural pós-Lei Áurea (1888). Foi a única menina entre os nove irmãos. Enedina nasceu no dia 13 de janeiro de 1913, em Curitiba. Filha de Paulo Marques e Virgília Alves Marques, formou-se em Engenharia Civil em 1945, sendo a primeira mulher negra no Brasil a se formar em Engenharia e primeira mulher a ter essa graduação no estado do Paraná. Mulheres, negras e pobres representam 25% da população brasileira. São um quarto do total de cidadãos do nosso país e vivem, em sua maioria, em condições de pobreza e na luta permanente contra a discriminação.
De família pobre, Enedina, com muita luta venceu barreiras sociais e econômicas para chegar à universidade. Ingressou no curso de Engenharia em 1940, onde foi alvo de discriminação por parte de alunos e professores. Muitos deles de famílias tradicionais com sobrenomes pomposos. Enedina Alves Marques venceu todas essas barreiras. Não se casou e não teve filhos. Ao final de sua vida, morava no Edifício Lido, no Centro de Curitiba, onde foi encontrada morta aos 68 anos, vítima de ataque cardíaco. Fica aqui minha homenagem e reflexão a todas as mulheres negras, assim como Enedina, Guerreiras que apesar de Vítimas de Violências Múltiplas e Preconceito, fazem da Falta de Oportunidade e intolerância sua Força para Lutar e se Tornar Mulheres Fantásticas. Enedina Presente!
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