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Foto do escritorCuritiba Suburbana

A certeza na frente a história na mão - e a cabeça no lugar

Por Felipe Demier


Surpreendentemente, mas nem tanto, há setores da esquerda, embebecidos pelo culturalismo identitário, que estão a responsabilizar o professor decapitado pela sua decapitação. Com pouca coisa na cabeça,  essa gente identifica anti-dialeticamente a Grande Revolução de 1789 com o atroz imperialismo francês,  responsabilizando os princípios  da primeira pelos crimes do segundo, o que não é muito diferente de condenar os essênios e cristãos de Paulo pelas torturas de Torquemada.

Em meio a esse anátema da razão promovido em tempos de escuridão, vale sempre resgatar o método do materialismo histórico e frisar que se o ateísmo que embasava a Verité e o Ser Supremo dos jacobinos era, do ponto de vista filosófico, tão idealista e, portanto, tão religioso quanto a crença no "direito divino" que sustentava ideologicamente o poder dos Bourbons, historicamente eles tiveram sentidos contrários. O mesmo, aliás,  pode ser dito do islamismo dos resistentes (terroristas,  aliás) de Argel na década de 1950 e o que grassa agora entre o neofascismo de cariz muçulmano.

A liberdade de religião não pode ser usada para obstar a liberdade de crítica da religião - qualquer que seja ela. O atentado à Porta dos Fundos e a decapitação no subúrbio parisiense só mostram como, hoje, a racionalidade da burguesia decadente só produz bárbaros, e que está em nossas mãos a defesa de uma verdadeira razão que possa livrar o mundo da irracionalidade do mundo capitalista.

Ainda que sua ideologia concebesse o mundo de ponta à cabeça, Robespierre e seus rousseauninos radicais, ao acionar a guilhotina, faziam a humanidade avançar, e não à toa aqueles que, tempos  depois, compreenderam que as cabeças pensam a partir do chão que os pés pisam souberam reconhecer o papel dos revolucionários sans-cullotes de outrora, e se colocaram como seus continuadores críticos.

Continuamos nós, hoje, lutando para que a humanidade, em sua sinuosa e errática trajetória, possa vir a conquistar uma sociedade em que, nunca, a crença numa vida celestial possa vir a justificar a morte de um ser terreno. Sigamos.


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