Por Antônio Caccia
Para muitos esse título pode parecer repetitivo, triunfalista ou até mesmo piegas, mas para a maioria daqueles que lutaram contra a ditadura militar, não é.
Em Janeiro de 1985 eu tinha 15 anos e desde Novembro de 1984 morava em Fortaleza, seis meses antes havia sido recrutado para o comitê secundarista do MR8 em São José dos Campos.
No mesmo mês, por motivos profissionais de meu pai, nos mudamos para a capital cearense e em Dezembro do mesmo ano, havia sido eleito primeiro tesoureiro da União Metropolitana dos Estudantes Secundarista de Fortaleza.
O dia 15 de Janeiro de 1985 representa a vitória de Tancrado Neves no colégio eleitoral, pondo fim a 21 nos de Ditadura militar.
As incertezas, não da vitória, mas do que ocorreria com a vitória de Tancredo, eram grandes. Dois dias antes da eleição, em Brasilia, militares descontentes com a possível vitoria da oposição, colaram cartazes em toda capital, mostrando Tancredo junto à uma foice e um martelo. Apesar da iminente vitória, existiam dúvidas com relação a importantes setores militares contrários ao fim da ditadura. Assisti a eleição do colégio eleitoral pela televisão e por volta das 13:00 hs, quando foi anunciada a vitória da chapa Muda Brasil! Tancredo Presidênte, composta por Tancredo e Sarney, fui para o centro de Fortaleza, na Praça José Alencar, onde um trio elétrico celebrou até à madrugada, o fim da ditadura militar.
O mineiro Tancredo Neves surge na política nacional como ministro da justiça do presidente Getúlio Vargas, no auge da crise que levou ao suicídio de Getúio, ressurge no auge de uma nova crise, sendo peça chave para o acordo que deu posse ao presidente João Goulart, com a emenda parlamentarista. Logo depois, Tancredo foi eleito primeiro ministro de Jango, renunciando ao cargo em 1962 para concorrer ao governo de Minas Gerais, onde foi derrotado pelo conservador e udenista, Magalhães Pinto.
No dia 1° de Abril de 1964, em um dos poucos atos de coragem regitrados naquele dia, quando o senador Auro de Moura Andrade, no congresso nacional, declara vaga a presidência da república, o deputado Tancredo neves, aos gritos, vociferando, “canalha, canlha, canalha!” Estava consumado o golpe militar.
Em 1974 o deputado Tancredo Neves, contrário aos autênticos do MDB que queriam a autodissolução do partido, cria o Movimento Travessia, que daria norte ao partido para atravessar os turbulentos anos da ditadura.
Em 1982 Tancredo é eleito governador de Minas, sendo um dos coordenadores da campanha das Diretas Já. Derrotada a emenda Dante de Oliveira, o nome do govenador mineiro surge como candidato da oposição para concorrer à presidência da república no colégio eleitoral. Em Setembro de 1984, Tancredo deixa o governo de Minas para embarcar na derradeira aventura de sua vida, a candidatura a presidência da República.
Político habilidoso e conciliador, Tancredo é eleito pelo colégio eleitoral em uma ampla aliança que ia dos comunistas, passando pela esquerda e centro do MDB, setores do PT, o PDT de Leonel Brizola e da centro direita, que até poucos meses, apoiavam a ditadura militar. A composição do seu ministério representava a mesma aliança que o apoiou, tendo como Ministro da Justiça, Fernando Lira e o conservador, Antônio Carlos Magalhães nas Comunicações. No Ministro do Exército, Tancredo nomeou o general Leonidas Pires Gonçalves, militar moderado que ajudou a transição na caserna.
Na véspera da posse da presidência da República, Tancredo é internado com uma diverticulite crônica, doença da qual já sofria desde antes de sua eleição, seu martírio duraria até o dia 21 de Abril, quando faleceu.
Nesses tempo turvos atuais, apesar de sermos governados por idiotas, aves de rapina, neoliberais, terraplanistas e evangélicos imbecilizados, hoje é dia de comemorarmos a democracia e a vitória contra o medo, o resto será história.
Antônio Caccia - jornalista
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