Por Ana Campos
Será preciso ter muita coragem e desapego do ego para se sair candidato nas próximas eleições municipais. Fazendo uma análise do ponto de vista do eleitor comum, daqueles que não são engajados na política e apenas votam esperando acertar, e depois se decepcionam, e votam de novo e se decepcionam de novo, não é difícil perceber que a classe política já se transformou em uma espécie de inimigo do eleitor, um mal necessário e imposto por lei que, se não fosse assim, seria banido da sociedade.
Bastam cinco minutos de conversa com qualquer cidadão da periferia e você verá que o que estou dizendo não é exagero. Ninguém mais quer saber de políticos, ninguém mais confia neles, ninguém mais os suportam.
Candidatos são vistos, de modo geral, como oportunistas, espertalhões tentando entrar na administração pública para mamarem nas tetas do governo. Mentirosos, ladrões, e por aí vai...
Uma pessoa de princípios, provavelmente se sentirá mal na condição de candidato, só de imaginar o que as pessoas estarão falando e pensando sobre ele (a). Será preciso mesmo muita vocação para a política, muita abnegação, ou muita cara de pau (no caso do camarada ser mesmo um (a) safado (a) oportunista) para que tenha peito de chegar numa comunidade qualquer e dizer a famosa frase: “votem em mim!”
Hoje em dia as pessoas votam por votar, porque o voto é obrigatório e o título eleitoral é um documento importante que pode ser cancelado. Ou votam em um candidato conhecido que, futuramente, pode lhes fazer alguns favores pessoais, ou escolhem aquele com quem foram com a cara, por um motivo banal qualquer.
Não adianta mais o camarada se rasgar em discursos e promessas, nem expor boas ideias, bons projetos, ou fazer juramentos de compromisso com essa ou aquela causa.
Ninguém mais acredita; ninguém mais leva políticos a sério, pelo menos não na periferia, onde eles só aparecem na hora de pedir votos, ou se aparecem durante o mandato, têm sempre uma boa desculpa para justificar o fato de não estarem fazendo porcaria nenhuma pela comunidade: é a falta de verba, ou, isso não depende do vereador, ou, isso não depende da prefeitura, ou, é a crise...”
O pior é que, na maioria das vezes, eles, os políticos, têm razão. Na maioria das vezes, realmente não depende deles, ou realmente falta verba e não por culpa do vereador do bairro, mas do sistema político como um todo, um sistema corrupto e desumano que deixa de direcionar verbas para atender ás comunidades, para transferi-las para políticas que favoreçam os grandes empresários, as elites brasileiras. Mas como convencer o povo de que você (vereador, prefeito, deputado) está dizendo a verdade? Que não é culpa, nem má vontade sua?
E como distinguir o joio de trigo, nesse saco de batatas onde mais da metade já apodreceu e cheira a chorume?
Não há como convencer o povo, resta ao candidato de boa vontade, dar à cara a tapa, suportar o tapa e ficar firme no propósito de fazer o seu melhor, caso consiga ser eleito, pois fazer o melhor é o máximo que realmente se pode prometer, qualquer coisa além disso é mentira deslavada.
As próximas eleições prometem ser um campo de batalha. O pessoal “politicamente engajado” vai usar de todo o seu poder de manipulação com essa crise política que se instalou no Brasil nos últimos anos para convencer os eleitores a votarem em seus candidatos, independente dos caras serem bons ou não, dos caras terem caráter e boas propostas ou não, dos caras terem competência ou não. Competência e boas propostas, aliás, serão as últimas coisas que vão importar em 2020, o pessoal “politicamente engajado”, saberá exatamente como convencer um eleitor a votar em seus candidatos, apenas pelo fato daquele candidato pertencer ao seu lado político-ideológico e se o Brasil já não era nenhum exemplo de consciência e inteligência política na escolha dos seus governantes, agora então, escolhas baseadas na lógica, na mensuração, na racionalidade, serão extintas.
Vai valer tudo nessa guerra, até afundar o Brasil com uma nova legião de idiotas, também no âmbito municipal, em nome da guerra ideológica que se instalou no âmbito nacional do governo.
Realmente será preciso muita força psicológica, emocional e moral para que um camarada de boa fé saia candidato nas próximas eleições municipais, e as chances de ser eleito nesse ano, se ele for novo e desconhecido, serão infinitamente menores do que nas eleições anteriores. Provavelmente o camarada enfrentará uma maratona desgastante, pra nada. Independente da sua capacidade técnica, da sua honestidade, do seu comprometimento, o que vai valer, pra valer, nessas eleições, será o lado a que ele pertence, o marketing e o carisma. Numa cidade como Curitiba, se ele for de direita já será meio caminho andado, suas chances aumentarão bastante se ele for do tipo que sai gritando: mitooo, mitoooo..., enfim.
Nada muito diferente do passado, apenas um pouco pior, um pouco mais acentuado, porque o povo, ao invés de estar se politizando, se instruindo, se esclarecendo e aprendendo a defender os interesses de suas classes, está cada vez mais alheio, seja por excesso de decepções, seja por excesso de individualismo, e está cada vez mais nas mãos de uma minoria oportunista que sabe bem como manipulá-los.
No fim, ele, o povo, é quem realmente perde. Mas então, quem é que ganha com tudo isso?
A elite é claro. Sempre a elite!
Ana Campos.
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