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Foto do escritorCuritiba Suburbana

Rafael Greca, o Pôncio Pilatos de Curitiba

Por Ana Campos



Na última quinta-feira (17), cerca de 300 famílias foram despejadas, sem aviso prévio, de uma ocupação na Cidade Industrial de Curitiba, mediante a uma ordem de reintegração de posse. Citado nas redes sociais, o Prefeito, Rafael Greca “explicou” que a negociação não coube à Prefeitura, pois a área é particular e a reintegração de posse foi ordenada pela justiça e executada pela Polícia Militar.


Agora, o que nós devemos nos perguntar é se realmente não havia nada que o Prefeito pudesse fazer, ou se ele fez como Pôncio Pilatos (para citar à Bíblia, já que estamos em época de Natal) e simplesmente lavou as mãos, sem nenhuma empatia, sem nenhuma preocupação com a vida e o direito à dignidade daquelas famílias?


Greca alegou que as informações devem ser dadas pelo Governo Estadual, mas aquelas famílias são, em grande parte, famílias curitibanas, filhas dessa “cidade maravilhosa e acolhedora”, aquelas pessoas são trabalhadores que contribuem para a manutenção da nossa “Europa brasileira” a que o Prefeito tanto diz amar, como ele pôde se manter distante do impasse sem fazer nenhum movimento no sentido de ajudá-las?


Se a responsabilidade era do Governo Estadual, porque o Prefeito não procurou o governador para pensarem juntos em uma solução? Quem sabe até, para desapropriarem as terras e cederem para aquelas 300 famílias que não têm onde morar? Afinal, elas estão lá desde o mês de Outubro.


O problema da moradia em Curitiba é gigantesco, há milhares de pessoas à espera na fila da COHAB, que há anos não faz nenhuma chamada para a baixa renda e ao que parece, a Prefeitura se eximiu desta função, da função de cuidar das questões da moradia. Não se houve uma única palavra nesse sentido, não se sabe de um único projeto sério para atender a essa enorme demanda da nossa cidade. É como se em Curitiba não houvesse mais nenhuma família sem teto.


Em contrapartida, os valores dos aluguéis crescem, a burocracia para um financiamento continua sendo intransponível, o desemprego, que é um problema de nível nacional, abala o curitibano, a mão de obra é desvalorizada cada vez mais e os trabalhadores da classe baixa vão ficando encurralados, sem saber o que fazer, apenas sobrevivendo do seu trabalho, sem direito à dignidade garantida pela constituição brasileira.


O Prefeito pode alegar que à cidade não têm dinheiro pra isso, principalmente nesse período pandêmico pelo qual estamos passando, mas nós sabemos que se tirassem um pouco da propaganda da Prefeitura, veiculada para convencer turistas de que esta é uma cidade perfeita e juntassem com um pouco mais de recursos do Governo Estadual, dinheiro não seria o problema.


O Prefeito pode alegar também que o dono não quer vender, mas para quê serve a lei? Apenas para despejar famílias carentes? Se ela serve pra isso, deve servir também para forçar o proprietário a uma venda compulsória, porque, embora saibamos que não é bem assim que a banda toca, em teoria, a justiça existe para promover a justiça e não para defender os interesses dos mais ricos.


Sei que muitos, que vão ler esse texto, vão rir de mim, da “ingenuidade” que é supor que coisas assim possam ser feitas em favor do povo. O que eu tenho a dizer sobre isso é que não deveria ser ingenuidade, coisas assim não deveriam parecer utopias, elas deveriam ser naturais, pois a não promoção da justiça social é que é uma aberração, é que desobedece a constituição, é que vai contra o que está escrito em nossa lei, em nossa carta Magna e não o oposto.


Por fim, gostaria de pedir ao governador uma posição dentro desse certame, ou ele também vai fazer ouvidos moucos e fingir que aquelas 300 famílias não estão amontoadas, possivelmente com outras 300, que já dispõem de espaços diminutos, ou então, jogadas pelos cantos da bela Curitiba, esquecidas como ratos nos esgotos, enquanto vocês enchem as bocas para dizerem que amam esse povo, em época de campanha?


Para mim, essa nem chega a ser uma questão política ou técnica e sim uma questão de humanidade. E vocês, senhores, Prefeito e Governador? Vocês são humanos?




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