Por Ana Campos
Hoje é o Dia Internacional da Mulher e para homenageá-las, escolhi falar sobre um assunto que raramente é exposto. Nesse dia lemos muitas matérias sobre mulheres homossexuais, sobre mães solteiras, sobre mulheres que desempenham atividades profissionais antes ocupadas apenas pelos homens, mulheres fortes, guerreiras, verdadeiros exemplos de vida. Mas há um grupo que pouco recebe destaque, um grupo predominantemente formado por uma geração mais antiga de mulheres. Mulheres pobres, casadas, mães de família e que, em geral, agora já estão com os filhos criados. Essa geração de mulheres que viveram o auge de suas vidas em uma época onde o valor da mulher passava praticamente despercebido. É delas que eu quero falar.
Pra quem olha de fora, aparentemente elas são mulheres comuns. Elas não fizeram fortunas criando um negócio próprio, não se graduaram em uma faculdade, não se destacaram na profissão, não se rebelaram contra a sociedade, não começaram um movimento social. Elas não gritaram por socorro, não foram vistas como mártires, não realizaram nenhum grande sonho. Os sonhos dessas mulheres, na verdade, foram deixados para trás em favor dos sonhos de suas famílias, em favor da vida dos seus filhos. Porém, o brilho dessas mulheres resignadas, o heroísmo cotidiano com que elas venceram obstáculo a obstáculo em suas vidas, não figura na romantização do sofrimento social, simplesmente porque elas seguiram todos os protocolos do comportamento padrão que a sociedade da época exigia.
Algumas dessas mulheres carregaram nas costas, maridos bêbados, agressivos, mulherengos, irresponsáveis, vagabundos e fracos, não porque precisavam deles para sobreviver, mas porque aprenderam que o casamento é uma instituição sagrada e indissolúvel e que deviam colocar o amor e o perdão como base da vida conjugal.
Eu não estou aqui para fazer juízo de valor, nem para dizer se aqueles conceitos ‑ que inclusive ainda prevalecem para muitas pessoas ‑ estavam certos ou errados, mas para mostrar que por trás da aparência comum da vida dessas mulheres, existem histórias de superação, maiores do que muitas das que se destacam nos jornais nessa época do ano.
Conheci inúmeras mulheres como essas ao longo da minha vida, ouvi muitas das suas histórias e por isso escolhi falar sobre elas. Elas trabalharam de sol a sol, foram empregadas domésticas, diaristas, vendedoras, cabeleireiras, cozinheiras, zeladoras..., mulheres que não tinham nada na vida, além dos filhos e de um marido imprestável, alguns deles, manipulados por mães superprotetoras, outros, alcoólatras, jogadores compulsivos, farristas inveterados que gastavam tudo o que ganhavam na bagunça, enquanto em casa, mal tinham o que dar para os filhos comerem. Enfim, são inúmeros os casos de homens que, ao invés de terem sido o esteio da família, foram só mais um problema, levando dor e decepção para as suas esposas.
No entanto, apesar dos maridos, da pobreza e de todas as adversidades enfrentadas, elas venceram, conquistaram suas casas, criaram os filhos e hoje os vêm formados, casados, independentes e felizes.
Algumas dessas mulheres se separaram em algum momento, outras continuam casadas com os mesmos homens, que talvez agora, amadurecidos, tenham percebido o valor das companheiras que têm aos seus lados. Fato é que, se muitas das famílias tradicionais que conhecemos hoje, ainda estão de pé, vivendo com dignidade, não é graças aos “homens da casa” e sim a essas grandes mulheres, essas heroínas anônimas, às quais eu homenageio e para às quais eu deixo aqui registrada toda a minha admiração e respeito.
Para elas e para todas as mulheres guerreiras do mundo. FELIZ DIA DA MULHER!
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