Por Ana Campos
Volta e meia, temos casos de violência e assassinato nos supermercados das grandes redes, em geral de negros e pobres e até de animais indefesos. O caso de ontem não fugiu à regra: um homem negro, desarmado, morto a pancadas por dois seguranças, de maneira covarde e brutal.
Já há sete meses, uma funcionária de uma das lojas do Condor, em Araucária, foi baleada acidentalmente por um segurança. Na ocasião, um homem branco começou o tumulto, agredindo o segurança, que sem saber como se defender, sacou da arma e atirou de qualquer maneira. O agressor levou um tiro de raspão e a funcionária morreu. No fim "a culpa não foi de ninguém”, porque o agressor não estava armado, o segurança só estava se defendendo e a empresa, obviamente, não se responsabiliza por nada, mesmo colocando armas de fogo nas mãos de funcionários despreparados.
A vida de uma trabalhadora se perdeu numa estupidez e tudo ficou por isso mesmo, aí então a gente se pergunta: esses seguranças não são tão agressivos, porque não usaram essa agressividade contra o homem branco, que de fato estava oferecendo risco à integridade física de todos os presentes? E a resposta é simples: por que eles não são treinados para serem agentes de segurança e sim para serem opressores de negros e pobres, vistos como os inimigos em potencial pelo preconceito enraizado na sociedade, cultivado e disseminado pela elite e absorvido e praticado por trabalhadores alienados, que entendem como uma licença para agredir e matar, agindo como feitores da CASA GRANDE, eles nunca esperam que a ameaça possa vir de um branco da classe média.
Mas de nada adianta ficarmos repetindo isso, ou sairmos em protesto apenas por um caso em especial, é preciso que façamos algo de concreto, cobrando do Estado uma ação efetiva que possa refletir a curto, médio e longo prazo, no sentido de reeducar a sociedade e de combater o racismo, o preconceito e o modus operandi dessas grandes empresas, que alimentam a discriminação e promovem a violência gratuita contra as minorias. Não podemos esperar que a conscientização parta da iniciativa privada, não podemos esperar que a elite se autocorrija, nem que parte das classes baixas, alienada dos problemas sociais, aprenda a deixar de ser instrumento da opressão das elites, contra os seus irmãos. Só o Estado tem o poder de mudar a cultura de um país e de influenciar as próximas gerações, só o Estado tem o poder de corrigir as deformidades sociais e promover a conscientização e a justiça, atendendo às demandas dos movimentos sociais que clamam por igualdade e respeito, e é para o Estado que temos que voltar todas as nossas reivindicações e exigências.
É urgente que o Estado imponha às grandes empresas a educação cidadã no exercício da função dos seguranças particulares e isso também serve para a própria polícia. Que a prática da violência injustificada no exercício da função seja transformada em crime de abuso de poder e que esse crime tenha penas mais severas, ou tão severas quanto os crimes comuns. Que as empresas sofram as mesmas penas, como se elas mesmas praticassem a violência através dos seus funcionários, para que assumam a total responsabilidade sobre as suas condutas durante o expediente. É urgente que o Estado imponha que, à função, tanto dos seguranças particulares, quanto da polícia, não é a de agredir e matar, e sim de deter e prender, porque foi para isso que as sociedades civilizadas inventaram as prisões, para punir aqueles que deturpam a paz e a ordem com à restrição da liberdade, não com a violência e a morte, porque violência e morte são praticas de bandido e nem o Estado, nem a sociedade civil são bandidos, por tanto, não devem agir como tal, lançando mão das mesmas praticas.
O Estado tem o poder da lei e é através da lei que uma sociedade molda seus princípios e valores, fazendo com que a população absorva esses preceitos em sua cultura, por isso, cabe apenas ao Estado a função de educador e de promotor da conscientização e da justiça. Não adianta continuarmos podando os galhos, combatendo casos pontuais, é preciso ir à raiz do problema, se queremos realmente que o racismo e o preconceito comecem a diminuir em nosso país e até no mundo. Cabe ao Estado tomar as devidas providências e cabe a nós, a cada um de nós, exigirmos que assim ele o faça.
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