Resenha de Diogo Fontenelle
Sobre a cabeceira do meu leito, vislumbro o romance “O Colecionador de Calhaus” do escritor Cleto de Castro. Livro sedutor que me lança desafios e parece mesmo querer devorar-me qual uma esfinge revisitada ao dobrar dos sinos da contemporaneidade.
São muitos os apelos que me convidam a marinhar pela correnteza desse romance-poema pleno de mistérios insuspeitos a murmurar pelas alcovas, torres e porões do Sonhar. Antes de tudo, me reconheço como um colecionador de calhaus desde que eu sou eu. São calhaus vividos, sonhados e inventados em longas esperas feito esperanças e desesperanças pelo meu caminho-caminhar. Quando engatinhava, eu já buscava pedrinhas pelo chão e assim me fiz garimpeiro pela infinda aprendizagem do Ser Homem-aprendiz de poeta.
Crítico literário não sou nem serei, portanto cabe-me apenas tecer o meu olhar impressionista do Sempre-menino em busca do arco-íris esfumado pelo azular da infância exilada no meu pequeno poetar. Assim, eis uma brevíssima resenha na qual tento destacar algum resíduo de eternidade presa à escritura desse romance inquieto e inquietante que ronda o milagre da vida.
Percebo, verifico que esse romance traz consigo a marca de uma tessitura intimista melodiada à luz de vela, ao tremeluzir de um penumbroso sonhar em desencanto do homem perdido em busca de si mesmo. Sim, o intimismo do Cleto de Castro requer necessariamente urdidura com fios de Poesia. Eis assim, um jeito lírico de ruminar a vida a bordo do curso caudaloso da paixão tramada pelo dedilhar do Além.
Nesse contexto mágico, próprio do fazer poético - que seja em prosa não faz diferença alguma -, cabe-me apenas considerar que esse romance serpenteia pelos arabescos do viver feito garimpo do ouro mais raro que é a iluminação do Ser Poeta.
Diogo Fontenelle.
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