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Foto do escritorCuritiba Suburbana

O Amor Em Tempos Atuais



Nas profundezas do nosso EU habitam todos os tipos de sentimentos e emoções, que se podem nomear: desejos, anseios, medo, amor, ódio, tristeza, afeto, aversão. Suas derivações são múltiplas e inimagináveis e vão sendo “construídas” pela natureza humana ao longo da vida a partir de experiências individuais e coletivas.


Percebo em nossa sociedade uma fuga de se permitir SENTIR. Fica cada vez mais difícil para as pessoas se permitirem amar nos tempos contemporâneos. Vivemos numa sociedade paulatinamente mais narcísica e egocêntrica, centrada no “sucesso”, não que esse não seja agradável, mas, nos perdemos em nós mesmos em busca de algo que deixaremos para trás com o passar dos anos.


De que forma estamos deixando de nos amar, de acariciar cada ente querido, de tocar no rosto de nossos filhos, de dizer um eu te amo? Os amores românticos e avassaladores parecem ter ficado em um passado medieval longínquo.


Hoje um simples “eu te amo “ parece vir carregado de cobranças, pesos, sacrifícios, dores e rancores de um passado e é como se caminhássemos para uma sociedade sem amores, sem paixão, sem compaixão.


O amor parece-me distante e recalcado, pertencendo a exigências ou até mesmo fazendo parte de modismos de comportamento como, por exemplo, o desapego, em que o “legal” é dizer que não nos apegamos a ninguém nem a nada, que tudo é substituível. Afinal de contas, escolhem-se relacionamentos nas redes sociais como se escolhe comida no Ifood.


Nos tempos atuais, não podemos demonstrar que amamos, não podemos nos permitir sentir com medo de sofrer, não podemos acariciar as pessoas, pois estão cada vez mais frias e apáticas, não se permitem doar e muito menos receber. Como se a vida oferecesse algum tipo de garantia ou segurança. Com medo de amar, nos tornamos cada vez mais distantes de nós mesmos e dos demais.


Não conseguimos mais desenvolver vínculos afetivos verdadeiros, pois não queremos nos envolver, não queremos amar porque pessoas vem com seus “pacotes” de problemas. Na idealização, perfeitamente doentia, ninguém aceita pessoas reais, apenas as ideais são aceitáveis. Idealizamos pessoas, vidas, personalidades e não paramos para olhar e apenas ver o real, estamos sempre fantasiando e caindo na decepção inevitável.


Para onde caminhamos? Para uma vida de sucesso, sem amores, cheia de vazio? Colocamos variáveis desnecessárias no caminho para nos impedir de amar, de sentir ou de estarmos presentes. Em uma sociedade contemporânea onde se consegue com facilidade receita médica de ansiolíticos e antidepressivos, fórmulas mágicas para resolver ou tamponar qualquer dor, milhões de livros de autoajuda, de empreendedorismo, coachings sem fim, prontos a eliminar todos os problemas da vida como passe de mágica, como se fosse possível resolver em 24 horas a complexidade humana.


Como se esse marketing de autoajuda pudesse eliminar as dores da vida, garantir que nunca mais ninguém perderá um ente amado, que nunca mais sofrerá por amor, que seu negócio não irá por água abaixo em algum momento e, ainda assim, não paramos para notar que somos uma sociedade de pessoas tristes e melancólicas.


Os jovens estão cada vez mais depressivos e solitários, idosos abandonados e adultos perdidos em seus devaneios de sucesso, sem perceber que essa busca incessante é o que os adoece.

De fato, não temos noção do que estamos engendrando, mas, caminhamos para um mundo com pessoas frias e apáticas, cada vez mais inacessíveis e fechadas.


É necessário uma dose de pessimismo, não do lado negativo da palavra, porém, no sentido de apurarmos nossa percepção com um olhar crítico sobre o que realmente estamos plantando. O equilíbrio entre os pólos sempre é o melhor caminho, nem só o pessimismo nem só o otimismo, mas, os dois são necessários para uma noção mais aproximada da realidade humana.


Enfim, espero que possamos nos permitir a amar mais, sentir mais, abraçar mais, viver mais intensamente e nos entregarmos mais, sem medo do amanhã. Na toada em que nossa sociedade se encontra, provavelmente não teremos mais relacionamentos afetivos. Seremos máquinas de produção em série, sem sentimentos.


Sandy Daré.






Sobre a Autora



Sandy Daré é terapeuta, psicóloga e palestrante. Formada em Psicologia Clínica pela UNIP; Curso de Expansão Autismo e Psicoses na Infância: Diagnóstico e Projetos Terapêuticos pelo Instituto Sedes Sapientiae; Filosofia pela UNIP (cursando).




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