Por Wilson Ramos Filho (Xixo)
As redes sociais nos trouxeram milhares de analistas. Opinamos sobre tudo, até sobre física quântica, com nossas certezas e convicções.
Movidos pelas melhores intenções, cada um de nós tem opinião formada sobre quase tudo. Em momentos pré-eleitorais isso se agudiza.
Em minhas redes todos percebem a importância de derrotar os bolsonaristas e os lavajatistas nas eleições municipais. Alarmam-se ante a possibilidade de termos em nossas cidades gestões desastrosas com a que temos em âmbito nacional. As receitas para “evitar o mal maior”, todavia, estão longe de serem consensuais.
Nas duas maiores cidades brasileiras é intenso o debate, movido sempre pelas mais puras intenções, a respeito da retirada de candidaturas em favor daquela que hoje, segundo as pesquisas, aparenta ter maior viabilidade eleitoral.
Veja-se o que ocorre na capital paulista. O eleitorado petista é menor que o lulista. Mas não migraria necessariamente para o Boulos caso o PT retirasse Tatto da disputa ou se Lula pedisse. Parte sim. A maioria não. Por outro lado, quantos dos atuais eleitores do Boulos são antipetistas? Minha intuição é que empataria: ganharia alguns e perderia outros votos. Por esta razão o Psol não quis aliança com o PT decidindo-se pela chapa pura. Mas a questão não é meramente aritmética. Já volto ao tema.
No Rio quantos eleitores da Renata votariam na Benedita se o Psol retirasse a candidatura ? Pelo pouco que entendi do eleitorado carioca acho que a muitos dos eleitores da Renata migraria para o Paes eis que hoje já há muitos “de esquerda” na campanha do candidato do DEM. Outra parte iria para a delegada Marta Rocha, do PDT, sob o argumento cirista de que “é a única que ganharia do Paes no segundo turno”. Muitos anulariam o voto. O antipetismo contaminou definitivamente boa parte dos eleitores cariocas. Foram anos de insultos ao PT e isso, agora, tornaria difícil convencê-los a votar na Benedita em decorrência de orientação da cúpula partidária.
Consultei alguns amigos de esquerda nas duas capitais. Em linhas gerais concluí que apenas metade dos votos do Tatto iriam para o Boulos. A outra metade se diluiria entre os demais candidatos. No Rio, mesma coisa. Se a metade dos eleitores da Renata votaria na Benedita concluo que a outra metade não o faria. Ficaria dividida, o que não significaria grande quantidade de votos em ambos os casos, se corretas as pesquisas de intenção de voto. Mas há mais elementos a serem considerados.
Os eleitores de esquerda são mais politizados. Não agem como currais. Poucos são aqueles que seguiriam cegamente as cúpulas partidárias se estas decidissem por retirar as candidaturas de Tatto e Renata. Talvez gerasse, inclusive, enorme resistência entre muitos petistas paulistas e psolistas cariocas. Poderiam se sentir desrespeitados. E com certa razão. O tempo para isso era lá atrás.
Por outro lado, sabe-se que uma grande quantidade de eleitores de esquerda migrará - ainda antes do primeiro turno - para outras candidaturas, independentemente de renúncias às candidaturas próprias, pelo voto útil naquele que apresentar maiores possibilidades eleitorais de enfrentar a Direita no segundo turno.
Percebem como o resultado prático da desistência da candidata do Psol no Rio ou do candidato petista em São Paulo seria irrelevante?
O eleitor de esquerda que não participa organicamente da vida partidária fará sua escolha sem considerar o que vier a ser orientado pela direção do partido político de sua preferência. Nem todos, é verdade, apenas a grande maioria.
Por todas essas razões, além de outras, parece-me ilusória e inútil a insistência para que PT e Psol retirem suas candidaturas em SP e RJ respectivamente. O jogo já começou, e está sendo jogado com grande respeito recíproco. A esquerda, não está sendo fratricida. Desta vez, tem se poupado de críticas mais contundentes.
Os eleitores de esquerda às vésperas do primeiro turno decidirão pelas candidaturas que considerarem mais viáveis. Não são gado. Saberão como se comportar na hora do voto. E merecem nosso respeito. Em momentos dramáticos sempre é melhor termos a humildade de reconhecer que não somos tão sabidos como pensávamos, apesar das nossas melhores intenções.
O mesmo raciocínio vale para outras cidades? Talvez. Digam vocês.
Xixo, 25/10/2020
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