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Foto do escritorCuritiba Suburbana

Guerreiro pergunta. Quem é você? Nós precisamos saber. Entrevista com Edu Cabral



Piá Curitibano & Aquariano, Geógrafo & Desenhista, Advogado & Delegado Civil (aposentado), Artista plástico & Poeta! Com vocês, Eduardo Cabral Júnior, o Edu Cabral.

Guerreiro:

Eduardo Cabral, quem é você?


Eduardo Cabral:

"Não sei me definir com precisão. Sou uma pessoa que gosta de muitas coisas diferentes e por essa mesma razão não sou um grande especialista em nenhuma. Por esse motivo fiz muitas coisas diferentes e sempre me atraiu o conhecimento em tudo. Sou muito sensível às questões sociais e constatar as injustiças me afeta muito. Sinto mais do que penso e talvez essa a razão de escrever poesias"


Guerreiro:

Como era a vida do  Edu Cabral "Piá Curitibano"?


Edu Cabral:

"Então, sou nativo de Curitiba e sou privilegiado em ter vivido a infância numa época que ainda tinha espaço pra brincar na natureza. Perto da minha casa no Ahú, tinha mato, rio, morro e como toda criança da época, soltava pipa, jogava bola na rua e eu gostava também de fazer esculturas num morro perto de casa. Lembro disso porque vejo hoje que já havia um gosto pela arte. A liberdade para se brincar na rua e contato com a natureza era uma grande vantagem na época.

Na neve de 1975 nos divertimos muito e fizemos bonecos sobre o muro, numa época em que os muros tinham 1 metro de altura….


Guerreiro:

como foi a trajetória dos seus estudos, do ensino fundamental até sua formação acadêmica?




Edu Cabral:

"Comecei minha vida nos bancos escolares no Grupo Escolar Aline Picheth, na Rua Eurípedes Garcês do Nascimento, nunca esquecerei da minha primeira professora, "Dona" Terezinha, faleceu recentemente, e eu tinha um grande carinho por ela. Me lembro de outras professoras e de grande parte dos colegas de escola. Fui também aluno da professora Ana, de quem gostava muito, que era também advogada e comentava sobre sua outra profissão em sala de aula, e talvez por isso fiz direito no futuro. Ela era mãe do nosso grande músico, o Walmor Góes.

Estudei sempre em escola pública. O Colégio eu fiz no (CEP), Colégio Estadual do Paraná, onde tinha uma escolinha de artes sensacional, e ali conheci alguns dos artistas que hoje fazem a arte do Paraná. No ensino superior, eu estudei Geografia na UFPR, licenciatura e bacharelado, fiz também 2 anos de Belas Artes na EMBAP(Escola de Música e Belas Artes do Paraná) e fiz faculdade de Direito na UFPR."


Guerreiro:

Você fala com uma certa ressalva da sua função de Delegado,  afinal, você conseguiu exercer a justiça segundo a sua concepção, ou ficou um sentimento de frustração, com as leis e com a justiça no Brasil?

Edu Cabral: "Pois é. Tenho um certo cuidado ao revelar que fui delegado porque sei que há um estigma sobre a profissão e com certa razão. Toda a história de repressão passa pela Polícia e sendo o delegado a autoridade dessa instituição, acaba personificando essa imagem ruim. Na verdade não escolhi a profissão por vocação exatamente. Ocorre que sempre tive um grande anseio por justiça e isso me levou a fazer direito. Eu amo o direito e todo o conhecimento de filosofia, psicologia, história, etc... a serviço da Justiça. Já na faculdade me atraía muito uma corrente de juristas do Sul, como Amilton Bueno de Carvalho e Rui Portanova, que propunha um Direito Alternativo. Essa corrente pressupõe que as leis são sempre elaboradas pelos poderosos e certamente lhes privilegia. Então, o juiz ao analisar um caso concreto, ao perceber que determinada lei é injusta, poderia interpretar aquela lei da forma mais favorável ao réu. Poderia decidir ultra legem ou até contra legem, procurando atender o fim da lei que, em última análise, é a justiça. Por exemplo, absolver uma pessoa que furta um remédio para salvar a vida de um ente querido, quando não havia outro recurso. Ocorre que quando o juiz tem a oportunidade de fazer essa justiça alternativa, muitas vezes a pessoa já ficou presa semanas ou meses e seu ente querido já morreu. Eu propunha uma justiça alternativa na polícia judiciária, muito antes do caso ser analisado pelo juiz. Desta forma evitaria que pessoas ficassem presas desnecessariamente, num caso em que certamente seria absolvido posteriormente. Fiz um trabalho acadêmico sobre isso. E, realmente, em toda vida profissional, procurei realizar isso. Essa foi uma das razões por que desisti de  prosseguir num concurso de Juiz e assumir como Delegado. Mas, claro, o sistema é muito mais forte e  tive que enfrentar os poderes estabelecidos do Ministério Público e Judiciário. Claro que há um sentimento de frustração com relação à justiça no Brasil. Principalmente depois de Joaquim Barbosa e de Moro, os princípios de direito e a segurança jurídica no Brasil foram para o espaço. Um profissional do direito que se coloca à esquerda ou mesmo uma linha mais progressista, no Brasil sofre toda espécie de perseguição."


Guerreiro:

Artista plástico, as Artes plásticas tiveram afinal, qual importância em sua veia artística?

Edu Cabral: "Não posso me considerar um artista plástico, não produzi nada ou quase nada, em artes plásticas. Eu tinha interesse pela arquitetura, mas acabei passando no vestibular da EMBAP. Adorava o curso, mas como havia passado no vestibular de geografia, tranquei a Belas Artes e acabei não voltando mais. Com isso também não prossegui com as artes plásticas.


Guerreiro:

E o Edu Cabral Geógrafo? Como foi sua atuação enquanto Geógrafo?


Edu Cabral:

"Na verdade a geografia eu praticamente não exerci, a não ser pouco tempo de magistério. Como disse antes, eu gosto de muitas coisas diferentes e isso me levou a estudar geografia, que é o curso mais enciclopédico que tem. A geografia abrange desde o estudo do solo, de elementos microscópicos, até o estudo da astronomia, passando pela geografia urbana, humana, econômica, política, etc. Mas para exercer a profissão de geógrafo, fora do magistério, é preciso se especializar numa área: oceanografia, geomorfologia... e essas especializações não tinham em Curitiba, por isso não prossegui na área."



DESCALENDÁRIO


entra ano

sai ano

sempre entra um

por engano


                    entra mês

                    sai mês

                    e em agosto

                    o desgosto

                    da vez


entre setembro

e dezembro

o plano era 

a primavera


                     mas este ano

                     foi um engano

                     e, quando me lembro

                     já era



( edu cabral)



Guerreiro:

Como se dá o seu processo criativo? Quase que diariamente tem poesias suas publicadas nas redes sociais, você escreve todo dia?

Edu Cabral: "Na verdade, quando estava mais envolvido profissionalmente com outras atividades eu me considerava um poeta bissexto, ou nem isso. Escrevia de vez em quando, aliás fico um pouco constrangido de ser chamado de poeta até hoje, me parece um pouco pretensioso. Eu escrevo realmente por necessidade de expressão e ultimamente tenho sentido muito essa necessidade. Não tenho um método propriamente para escrever. Faço anotações, faço poemas que não gosto e, de repente, releio, reescrevo e acaba virando um poema. Não acho que a poesia seja mágica ou inspiração divina ou psicografia de espíritos, nada disso, mas quando se lê bastante poesia e o pensamento vem numa linguagem poética, às vezes o poema vem pronto. Tem poemas que, mesmo trabalhando muito nele, acaba não se viabilizando, porque se perde aquele lampejo inicial que era a razão de ser dele e, é verdade também que já fiz poema sonhando e, quando acordei, só escrevi. A maioria dos poemas que tenho publicado são realmente atuais. Tenho um álbum no facebook onde tenho mais de 800 poemas, que já foram publicados em postagens."


Guerreiro;

Você já publicou algum livro ou tem projeto futuro para tal?


Edu Cabral:

"Então. Comecei cedo e, quando tinha 16, 17, parecia precoce, ao ganhar concursos e participar do grupo do Sala 17. Neste grupo acabei participando apenas de um livro, chamado Reis Magros e dei minha vaga no livro Sala 17 para o Marcos Prado, porque não havia mais vaga para participar do livro e eu queria ver os poemas dele publicado. Depois disso, fui incluído em alguma publicação, jornais, etc., mas não publiquei livro individual. Tenho certa preguiça em organizar livro e tratar da burocracia da publicação. Amigos perguntam sempre quando sairá o livro e eu brinco que sairá "postumamente". Sabe-se lá se não é verdade, mas tenho material pra vários livros. Já organizei e desmontei vários projetos de livros. A verdade é que, com o tempo, ao olhar criticamente para certos poemas, já não os publicaria. Ou seja, os poemas antigos, que hoje seriam livros, se os tivesse publicado, certamente não piblicarei mais. Mas os mais recentes ainda poderão ser publicados."


ORAÇÃO PELA PAZ 

que minha alma                       seja grande como a alma                       de Gandhi:                       mantenha a calma                       enquanto o ódio fala e se for capaz que se faça a paz                       sem nenhuma bala.             mas se não for apenas pelo amor                       tomara seja a alma de Guevara                        pois pra chegar ao paraíso                         também é preciso                        levar a armadura assim  que minha alma seja dura na guerra pela paz                       e sim                       sem perder a ternura                       jamais. (edu cabral)



Guerreiro:

Curitiba é um Celeiro de Poetas, Poetisas e escritores , podemos citar três ícones da Poesia e da literatura Universal, Helena Kolody, Paulo Leminski e Dalton Trevisan, entre tantos outros, qual a influência deles em em sua Poesia?


Edu Cabral:

"Sim, Curitiba tem um movimento Cultural muito bom e produz grandes talentos.

Adoro a Helena Kolody, sua poesia é de grande sensibilidade e grande sinceridade. Conheci a Helena Kolody pessoalmente, uma querida. Já o Paulo Leminski talvez seja quem mais influenciou todos os poetas que vieram depois dele. Leminski tirou a responsabilidade do poema e a poesia pareceu mais acessível a todo mundo. O Dalton Trevisan eu adoro. Inclusive tenho uma história bem interessante. Acho que em 2000, por aí, eu era delegado no 1° DP, e fui atender uma ocorrência na Voluntários da Pátria, onde um rapaz se jogou do último andar de um prédio. O caso era um pouco truncado que envolvia traição e paixão. Dei entrevista e contei essa história para os jornais. Uns dois anos depois, ao ler o livro Pico na Veia do Dalton, vi essa história num conto, exatamente como tinha contado ao jornal. Achei muito interessante isso, pois pude perceber que os contos dele são realmente tiradas do cotidiano. Claro que, ressalte -se, o que transforma a história real em arte é a linguagem, e nisso o Dalton Trevisan é mestre. Há algum tempo fiz um poema longo para o Dalton e só o tinha no bloco de notas do meu celular. Então tive o celular roubado e o poema se foi, junto com outros 70 mais ou menos, dos quais, infelizmente, não tenho nenhuma cópia."




Guerreiro:

Qual sua opinião sobre a política cultural do Município do Estado e do Governo Federal?

Edu Cabral: "Na verdade não há política cultural, ou seja, a cultura não é prioridade atualmente em nenhum nível da federação. No nosso caso, tanto a administração do Município, quanto do Estado, seguem o governo federal e este nós sabemos o desastre que é. Temos um governo totalitário com tendência fascista e, porque não dizer, nazista, em muitos casos. Sabemos historicamente como foi tratada a cultura nos países onde esses regimes se estabeleceram. Artistas foram perseguidos e livros foram queimados. No Brasil já há mostras disso, com censuras de filmes, perseguições a artistas de esquerda e agora tentam taxar livros com novos tributos, que quebrará editoras e tornará o livro ainda mais inacessível. Governos totalitários são inimigos da cultura porque sobrevivem da alienação do povo. A cultura e a arte expandem a mente e levam as pessoas à reflexão sobre a vida e à sua condição de humanos. Por isso a arte nesses momentos, como o que vivemos, tem papel fundamental. E exatamente por isso a política cultural do Estado é controlar a cultura, limitar e reduzir o alcance dos intelectuais e dos artistas, pois a revolução parte da liberdade de pensamento e de expressão. Então vejo com pessimismo os rumos da política cultural no Brasil. Mas a cultura precisa resistir a esses desgovernos, enfrentá-los e principalmente ser independente!"



Guerreiro: Apesar desse quadro catastrófico, você consegue vislumbrar um raio de esperança no horizonte de que isso possa mudar?

Edu Cabral: "Vivemos tempos muito esquisitos. Sabemos que sofremos um golpe envolvendo parlamento, judiciário, mídia e que se utilizaram em profusão de fake News. Sabíamos quem eram os corruptos e que eles para induzir a opinião pública, acusavam a esquerda de corrupção e que esse condicionamento através da mídia favoreceu a volta da direita ao  poder. A nossa esperança sempre foi de que a mentira uma hora seja desmascarada e ao perceber isso o povo se revolte e mude os rumos da nossa politica escolhendo governantes mais comprometidos com a arte e a cultura e com as causas populares de uma forma geral. No entanto, o grande desalento que cada vez mais nos decepciona é perceber que, mesmo esclarecidos, mesmo sabendo que houve um golpe para retirar direitos dos trabalhadores, mesmo sabendo que o governo é corrupto e que o país está sendo entregue a preço de banana ao capital estrangeiro, mesmo assim ainda há quem continue apoiando. Mesmo após o Intercept revelar que a Lava-jato foi uma farsa, mesmo percebendo que os membros do governo estão atolados em corrupção, mesmo após mais de cem mil mortos por conta dessa pandemia e da notável incompetência ou até mesmo descaso, esse "desgoverno" recebe apoio de camadas da população. Diante disso, a esperança já não está em mudar o governo, mas em mudar o povo. Mas enfim, esperamos que mude e a arte tem papel importante nisso. Guerreiro: Diante tal quadro, você diria que ser Artista, ser Poeta, é um ato de amor?

Edu Cabral: "Obrigado pela pergunta, Guerreiro. Sem querer ser piegas, mas acho que só o amor é que dá sentido pra existência humana. O que fazemos não tem importância se não satisfaz o que sentimos e, de todos os sentimentos o maior é o amor. A arte, por mais que seja só um artefato, só tem importância quando tenta traduzir os sentimentos humanos. A poesia trabalha com as palavras mas procura sempre dizer mais do que a palavra diz. A linguagem comum traduz pensamentos, a poesia se propõe a traduzir sentimentos. E  o poeta que escreve só pode escrever com competência se escrever por amor. Uma vez alguém me pediu pra definir a poesia e, respondendo reflexivamente, eu disse que a poesia "é o maior que nos assalta" . Ela nasce de uma grande emoção, de um sentimento que nos pega de súbito, quase um susto. Então fiz um poema dizendo que o "poema é o amor que nos assalta". Só se escreve por amor, mas isso também significa a necessidade de se compreender, de se expressar, de protestar e compartilhar  sentimentos. Ninguém pensaria em escrever pra vender livros ou ganhar prestígio." DESANDADA MENTE tenho andado deprimente me desgarrando do gado por caminho diferente tenho andado até doente já estou desenganado e não creio mais em crente tenho andado inconsequente tomando café gelado bebendo cerveja quente tenho andado transparente vou pra rua descuidado usando óculos sem lente tenho andado eloquente chovendo no molhado falando onde não tem gente ando demasiadamente e por onde tenho andado muitos me acham demente ando preocupadamente pois se o mundo for quadrado me enganei redondamente (edu cabral) Guerreiro: Qual será seu legado? Qual mensagem você pretende deixar para as próximas gerações, com a sua poesia?

Edu Cabral: "Na verdade não tenho grandes pretensões literárias, tanto é que sou desleixado e preguiçoso em se tratando de elaborar livros e divulgar minha poesia. Gosto sim de ser lido e sentir que consigo comunicar sentimentos meus e que ele encontra ressonância em muitas pessoas. Mas por isso gosto de escrever nas redes sociais, onde atinge um número grande de pessoas e tem uma resposta rápida. Tem muito poeta que se apresenta na internet como poeta mas apenas anunciam seus livros. Me parece que o objetivo não é que a poesia atingir mais gente. Alguém que venda 1.000 livros, apenas uns 20% irão ler integralmente seus poemas. Num poema postado no facebook, tendo em média 150 ou 200 leitores, multiplicado por dezenas de compartilhamentos e esses também replicados, terá milhares de leituras. Imagine o quanto é mais acessível que o livro. Mas, claro, pretendo editar esses poemas em livros e deixar como um documento deste tempo. Mas quando me perguntam quando vai sair o livro eu brinco dizendo: postumamente...rs rs" Guerreiro: "Edu Cabral! Agradeço imensamente sua disposição e sua  generosidade, de dispensar um pouco do seu tempo, para contar um pouco sobre você, ao Blog Cultural da Ana Campos e ao nosso público, por gentileza, nos brinde, com suas considerações finais!

Edu Cabral: "Eu é que agradeço a gentileza em querer me ouvir. Estamos em uma época atípica, não só no Brasil, mas no mundo todo, em função da pandemia. No Brasil agravado pelo momento político, cujo governo potencializou a pandemia e aproveitou o momento para retirar direitos e saquear o país. A entrevista foi em função dos meus poemas, mas só gostaria de dizer que nada tem mais importância no mundo que a felicidade das pessoas. E a felicidade coletiva só se alcança com solidariedade, com liberdade e justiça social. Por isso nada tem mais importância do que lutar por um mundo melhor, cada um com a arma que tem. Eu milito onde posso, em todo tipo de manifestação e luta, seja através das profissões que exerci, através do que escrevo em redes sociais ou da minha poesia. Penso que tudo o que fazemos na vida tem que ter esse sentido: melhorar o mundo. E como disse o Leminski: "en la lucha de clases todas las armas son buenas piedras noches NU VENS nada temas nada temos não somos mais do que sabemos sempre menos do que pensamos nada mais do que devemos menos muito menos e voltamos  sem saber por que viemos (edu cabral)



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