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Foto do escritorCuritiba Suburbana

Entre Pais e Filhos

Coluna: Psicologia na Veia. De Sandy Daré


Infelizmente, nos dias atuais, os filhos não são reconhecidos por sua pessoalidade, suas competências ou por suas características e aptidões. Hoje, os filhos são grandes amostras de grandes prêmios de pais competitivos entre si, disputando o “cargo “ de melhor pai e mãe, com a necessidade de mostrarem ao mundo o quão “exemplares” são na função de educadores.


Para a criança ser tida como “bom” filho, precisará demonstrar a grande maternagem e paternalidade que nela habita.Criar um filho e educá-lo tornou-se uma grande e acirrada contenda de ego entre pais infantilizados, narcísicos e cada vez mais competitivos e egocêntricos. São pais que se intrometem todo o tempo no desenvolvimento social escolar, não permitindo que suas crianças desenvolvam os próprios recursos internos de socialização. Vemos mães se degladiando, literalmente, em grupos de whats, vemos mães em conflito nos parquinhos, vemos pais tirando satisfações em universidades, em relação ao desempenho de seus filhos.


Será que todas estas situações de sociabilização não nos trazem questionamentos? Não paramos para refletir em nenhum momento? Seguimos cegos, em meio a tanta depressão adolescente, seguimos cegos em relação ao real abandono dessas crianças, porque abandono não está somente relacionado a negligência, mas também superproteção é uma característica de abandono. Abandono de quem essas crianças realmente são, quais são suas personalidades, suas reais aptidões, mas, seguimos calados e obcecados por filhos C.E.O., grandes executivos desprovidos de contentamento interno.


Quando chegamos nessa encruzilhada, qual deveria ser nosso grande questionamento? Como foi que eu não permiti que meus filhos desenvolvessem recursos internos para serem capazes de lidar com o mundo, a vida, as frustrações, as quedas, as rejeições, os abandonos, as perdas? Como fomos capazes de simplesmente não permitir que essas crianças se desenvolvessem por sermos, muitas vezes, cruéis e cegos em nossa obsessão obsoleta de torná-los obstinados por grandes cargos, porém, desprovidos de base interna até para aproveitarem esse possível “sucesso”.


Pais investem quantidades exorbitantes na educação dessas crianças e não percebem que nem sempre essa ação está voltada para o bem estar de seus filhos, apenas diz respeito a seus egos necessitados de “viewsfull time”, para que o mundo os aplaudam como “grandes e honrados pais “, como pais “bacanas”, “descolados”. Nunca se questionaram para quê? Ahhhhh, sim, a resposta é para que seus filhos, aos doze anos, vislumbrem ser grandes executivos no futuro… Afinal, a representação de “sucesso” do filho, refletirá diretamente no grande prêmio de melhores pais do ano.


Será que a vida se resume a ser um executivo de sucesso ou será que a vida é muito mais que isso? Muitos desses indivíduos, quando chegam ao “topo”, começam a se questionar, passam a se sentir perdidos, desorientados, solitários, pressionados e totalmente desconectados consigo mesmos. O fato de tornarem-se médicos, dentistas ou qualquer outra profissão na qual sejam bem sucedidos, não significa necessariamente que exista um sentimento de completude interna e realização.


Na grande maioria das vezes, nos tornamos projeções de desejos doentios e obsoletos de nossos pais. Estes adultos, quando se percebem como indivíduos, não conseguem enxergar luz e degustar a vida que criaram.


Resumindo, viramos uma produção em massa de seres humanos robotizados e isentos de aptidões autênticas, vítimas de uma desconexão consigo mesmos e com os demais.

Para piorar ainda mais esse quadro, temos as redes sociais, a diminuição de filhos por famílias, a terceirização da educação, os streams, os sites de relacionamentos, etc... que, aos poucos, vai levando nossa juventude a uma exclusão social, ausência de relacionamentos afetivos, obsessão por views e likes, isolamento, falta de capacitação para lidar com a vida em toda sua complexidade.


Por conta das situações aqui enumeradas, dentre outras abordadas em grandes pesquisas nacionais e internacionais, o índice de suicídios entre jovens cresce assustadoramente em 24% no Brasil, sendo que morrem mais meninos que meninas, pelo fato de procurarem formas mais letais para tirarem suas próprias vidas.


Seguiremos assim? Cegos, ausentes, focados e obcecados por sucesso doentio, buscando fórmulas mágicas para a resolução de nossas questões? Será esse nosso grande futuro?


Fica aqui a reflexão...




Sandy Daré - Psicologa e Palestrante.




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