O embaixador dos Estados Unidos em Israel, David Friedman, manifestou-se na última terça-feira (7) a favor da anexação israelense do território palestino conhecido como Cisjordânia. As declarações foram feitas durante uma conferência em Jerusalém, diante do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
Segundo a agência de notícias palestina WAFA, o diplomata disse que a ocupação dos territórios palestinos na região é um direito dos colonos israelenses. Para ele, o próprio nome “Judeia” – que é utilizado apenas pelo governo israelense para se referir à região – é uma prova disso, e que, segundo a Bíblia, aquela é a “terra de coração de Israel”.
Friedman ainda questionou a validade das decisões internacionais sobre a ilegalidade dos assentamentos, qualificando a situação da Cisjordânia como uma “questão populacional”. Em suas palavras, o grande complicador para a anexação completa da área seria a “vasta população palestina nativa da região”.
Em comunicado assinado pelo chanceler Riad Malki, o Governo Palestino disse que os comentários do embaixador são mais uma mostra do desprezo dos Estados Unidos pelas resoluções da ONU e pelo direito internacional, principalmente no que diz respeito à ocupação dos territórios palestinos.
A Cisjordânia é parte do Estado da Palestina reconhecido por 140 países, objeto dos Acordos de Oslo, chancelados por resolução do Conselho de Segurança da ONU. A Convenção de Genebra definiu a região como território palestino ocupado, assim como o Tribunal Internacional de Justiça.
Mesmo com a comunidade internacional reconhecendo a autoridade da Palestina sobre a Cisjordânia, Israel mantém seu exército no controle da região, sob pretexto de garantir a segurança da população israelense. E para isso, impõe inúmeras restrições a mais de 2,5 milhões de palestinos e palestinas que vivem na região.
O Estado de Israel controla todas as fronteiras da Cisjordânia e tem centenas de checkpoints instalados na região, o que impede o livre trânsito até mesmo para atividades cotidianas, como ir à escola ou ao supermercado.
Cidades históricas como Jericó e Jenin foram cercadas por fossos, restringindo seus acessos aos postos de controle. Israel controla 85% dos recursos hídricos da região, separa agricultores de suas plantações e torna extremamente difícil a sobrevivência das comunidades de base agrícola.
O “muro do apartheid”, considerado ilegal pelo Tribunal Internacional de Haia em 2004, já ultrapassa os 760 km entre barreiras físicas e eletrônicas, fossos antitanques, pontos de observação, patrulhas e vedações com trincheiras rodeadas por áreas de exclusão com em média 60 m e por paredes de mais de 8 m de altura.
Tortura, perseguição, confisco de bens, destruição de residências e de símbolos da cultura palestina – como as oliveiras – são algumas das práticas recorrentes da política de terror conduzida por Israel na região.
Em 2019, 521 casas palestinas foram destruídas na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, sob o pretexto de não terem licenças. O levantamento é do B’Tselem, principal organização de direitos humanos de Israel.
Todas essas ações são parte de uma política de Estado que não esconde sua pretensão em ampliar os assentamentos judaicos na região através do isolamento, da segregação e do esgotamento das alternativas de subsistência econômica da população palestina.
Declarações como as do embaixador David Friedman servem apenas para incitar mais violência na região e para ocultar a longa lista de violações do Estado de Israel aos direitos do povo palestino. É mais uma demonstração descarada da administração Trump de leviandade diplomática e irresponsabilidade geopolítica.
A FEPAL soma sua voz à indignação de todos os palestinos que lutam por dignidade e soberania na veemente condenação à postura dos EUA, assim como exorta a Comunidade Internacional, o Brasil incluído, a refutá-la e em seu lugar construir um caminho de paz para a Palestina.
Publicado em: https://www.fepal.org.br/
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