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Chile: A Realidade De Um País Neoliberal

Relato de uma professora brasileira que viveu no Chile. por Diana Abreu

A realidade do Chile derruba a ideia de um país "modelo". Confira como o neoliberalismo prejudicou a Educação do país. / Lá somente 40 por cento das escolas são públicas/municipais e são paupérrimas

Eu morei no Chile em 2013, foi por ocasião do meu doutorado, era um estudo comparado sobre condições de trabalho docente.


Vivi lá!


E digo que o título de país desenvolvido não significava acesso a direitos sociais, dados mascarados sobre educação com cumplicidade de órgãos internacionais, facilmente questionados por estudiosos chilenos. Lá somente 40 por cento das escolas são públicas/municipais e são paupérrimas, não garantem sequer uma alimentação diária aos estudantes, meu filho levava almoço no dia que ficava em período integral.


O quadro de trabalhadores nas escolas era bem envelhecido, eu logo percebi que aquilo era um dado para a política. As pessoas podiam se aposentar aos 65 anos, mas permanecem até os 70 porque a aposentadoria significa ter que viver com 30% do último salário. Os Fundos de Pensões Privados. As Administradoras de Fundos de Pensão (AFPs) são um escárnio, um crime humanitário. O Chile tem nove universidades estatais e nenhuma é pública, todas cobram mensalidades e recebem os alunos de classe média alta, os mais pobres vão para o sistema privado sem qualidade.


A saúde era absolutamente precária. Cansei de participar de rifas para ajudar amigos que viviam para pagar seus tratamentos. À época o transporte público nas cidades já era caro e decadente, já havia a figura dos motoristas de "coletivos", uma espécie de ubers compartilhados. Os motoristas, quase todos ex-universitários desempregados, que ainda pagavam financiamentos estudantis. Estudantes universitários faziam revezamento empacotando compras para ganhar alguma "propina", como diziam, vivendo das gorjetas que recebiam. O gás era caríssimo, o dobro daqui no mesmo período, num frio intenso usávamos uns cinco botijões por mês, cozinha, banho, estufa para aquecer a casa, e não era luxo, simplesmente era impossível viver sem isso no inverno na Cidade de Talca.


Os mais pobres eram proibidos por lei de usar lenha em suas lareiras em várias cidades, isso era para não liberar fumaça ao ar, porque “enfeiava as cidades”. Sobre Santiago podia pairar as almas mortas pelo frio, mas não podia pairar a fumaça das chaminés.


A água que degela das cordilheiras é privatizada. Assim como quase todo pescado da costa do Pacífico, que banha o país, pertence aos japoneses. O custo de vida altíssimo.



Parem de falar do que não sabem


Crescimento do PIB e desenvolvimento esconde a desigualdade, esconde morte por fome e frio. Me encho de esperança quando meus irmãos chilenos, depois de quase quatro décadas, se levantam por mais vida e dignidade, por mais direitos e pela sua humanidade.



*Diana Abreu Professora da Educação Básica doutora em Políticas Educacionais

Edição: Pedro Carrano.



Matéria do jornal Brasil de Fato, parceiro da Revista Curitiba Suburbana:





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