Cerca de 100 pessoas participaram do Ato em Solidariedade ao Povo Palestino ontem à noite (11) na Assembleia Legislativa de São Paulo. O encontro, realizado no auditório Paulo Kobayashi, foi promovido pela Federação Árabe Palestina do Brasil – FEPAL, pelas bancadas do PT, PCdoB e PSOL, e mais de 20 entidades parceiras.
Entre os presentes estavam membros da comunidade árabe, palestinos e palestinas em diáspora, refugiados, militantes e lideranças de diversas organizações. O embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, o presidente da FEPAL, Ualid Rabah, e o secretário-geral da Confederação Palestina da América Latina e do Caribe (COPLAC), Emir Mourad, compuseram a mesa, presidida pela deputada Beth Sahão (PT).
Um firme chamado à união dos movimentos e agendas, proferido pelo ex-deputado e hoje assessor parlamentar da Casa, Salvador Khuriyeh, deu início às manifestações. Da tribuna, ele defendeu que grupos distintos, mas que compartilham afinidades – como a defesa dos direitos humanos e da justiça social –, coloquem divergências de lado para buscar novos e significativos resultados.
“A violação dos direitos do povo palestino e de existência de um Estado da Palestina, de direito e de fato, livre e soberano, é a violação dos direitos de todos os povos, das mulheres, dos negros, dos índios”, disse Khuriyeh. “Precisamos compreender que as nossas diferenças e a nossa divisão são a melhor e a maior arma do nosso inimigo”.
Na plateia estavam também líderes religiosos islâmicos e da Igreja Católica Ortodoxa, pesquisadores e estudantes, representantes de organizações feministas, de movimentos sociais e populares, de centrais sindicais e demais entidades de classe (veja lista no fim da matéria).
Solidariedade como arma contra o modelo de extermínio e colonização
O presidente da FEPAL, Ualid Rabah, reforçou alguns dos argumentos que tem utilizado para demonstrar o tamanho da catástrofe provocada pela ocupação de Israel. Ele lembrou o “número olímpico” de refugiados palestinos pelo mundo, hoje na casa dos 6 milhões; os massacres continuados, entre eles Sabra e Chatila; e a própria origem do 29 de novembro – marcado desde 1977 como o Dia de Solidariedade ao Povo Palestino.
Mesmo que a data remeta ao que é considerado um erro histórico da ONU – a Assembleia Geral que decidiu pela Partilha da Palestina –, Ualid acredita que seja válida a lembrança, e importante justamente para que se difunda, no maior número possível de canais, a realidade de abusos e violações que o povo palestino vem sofrendo desde então. A solidariedade que se busca, segundo ele, não é questão de credo, preferência política ou inclinação ideológica, mas de humanidade e respeito.
“É a solidariedade de cada homem e de cada mulher de bem deste mundo que faz com que a causa palestina continue resistindo e que nós não permitamos que o mais grave aconteça. E o mais grave, por incrível que pareça, não é o desaparecimento do DNA de cada palestino se a limpeza étnica se concretizar, o maior drama é se este experimento triunfar como modelo. Se a Palestina desaparecer, para que estrangeiros se instalem no lugar de um povo ancestral, qual será o próximo genocídio?”, indagou.
Mais do que prosperidade, dignidade e reconhecimento
O embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, agradeceu a presença voluntária e a “consciência solidária” de todos os presentes. Destacou que atos como esse, com inúmeras manifestações de apoio, servem para renovar as esperanças de todos aqueles que lutam pela soberania da Palestina. “O fato de ver essa criança” – disse, apontando para uma menininha que corria no auditório – “me dá a esperança de que a causa palestina vive, vence e vencerá”.
Ibrahim reiterou o chamado à unidade feito por Salvador Khuriyeh e aproveitou para reforçar alguns dos ideais que qualificam o direito do povo palestino à autodeterminação e à criação de um Estado independente e autônomo. Numa crítica ao “acordo do século” proposto por Trump, esclareceu que uma proposta baseada meramente na ideia de “prosperidade” não é suficiente.
“Sim, nós lutamos por prosperidade, mas não sem deixar de lutar para recuperar o papel deste povo na sua história de mais de 10 mil anos. Nossa luta é por nossa dignidade, por nossa soberania. Não aceitamos a prosperidade como suborno”, disse. “O nosso povo segue resistindo, não claudica, não se rende. Se esperam que o povo palestino levante a bandeira branca, melhor que esperem sentados”.
Arte e ativismo
Os participantes do ato tiveram também a chance de conferir a exposição Palestina: fragmentos de uma história. A mostra traz uma seleção de fotos feitas pelo repórter fotográfico Christian Rizzi – e seus colegas Jean Carlos Oliveira, Waldson Dias e Marcelo Freire – durante uma viagem à Palestina. De lá trouxeram ainda material para um documentário, com previsão de lançamento para fevereiro de 2020, e para um livro de crônicas, em produção.
Um vídeo didático produzido pela FEPAL sobre o significado da Resolução 181 e a origem do Dia de Solidariedade ao Povo Palestino também foi exibido durante o encontro, que lembrou ainda os 15 anos da morte do grande líder palestino Yasser Arafat e os 32 anos da Primeira Intifada, a “Revolução das Pedras”, levante popular palestino contra a ocupação israelense.
ENTIDADES PARTICIPANTES
– Academia Árabe-Brasileira de Letras – ARBIB – Associação Religiosa Beneficente Islâmica do Brasil – AVESP – Associação de Ex-vereadores de São Paulo – Bibli-ASPA Centro de Cultura e Pesquisa – CEBRAPAZ – Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz – Centro Islâmico do Brasil – CMP – Central dos Movimentos Populares – Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP – CONDEPE – Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana de São Paulo – Consulado Geral de Cuba – Consulado do Reino Hashemita da Jordânia – COPLAC – Confederação Palestina da América Latina e do Caribe – CUT-SP – Central Única dos Trabalhadores – Fearab-SP – Federação de Entidades Árabes Brasileiras do Estado de São Paulo – Marcha Mundial das Mulheres – MNDH – Movimento Nacional de Direitos Humanos – OCLAE – Organização Continental Latino Americana e Caribenha dos Estudantes – SOF – Sempreviva Organização Feminista
Comments