Por Ana Campos.
Já é hora de desmitificarmos a questão do prazer feminino. Primeiro, é preciso dizer que nós, mulheres, somos completamente diferentes dos homens e que essa história de que a mulher, para ser quente, tem que sentir tesão o tempo todo, a qualquer hora, é uma grande mentira. O que torna uma mulher quente não é a continuidade do seu desejo sexual e sim a intensidade que ele pode alcançar no momento em que surge, ou seja, não se trata de quantidade, mas sim de qualidade. Essa qualidade não vem da fisiologia feminina, vem da psicologia dela, que pode ou não, ser desencadeada pelo parceiro.
Mas, calma. Não tirem conclusões precipitadas, nem repitam os velhos clichês que habitualmente se usa por ai. Quando eu digo que “esta qualidade pode ou não ser desencadeada pelo parceiro”, sei que muitas pessoas pensarão que estou me referindo ao modo como ele faz a coisa: se ele é bom nas preliminares; se é carinhoso; se sabe ser romântico; se conhece o famoso ponto G, ou se conhece bem a mulher com quem está para saber exatamente do que ela gosta ou não gosta, porém, não se trata disso. Todas essas coisas que mencionei e que todos já ouvimos falar, são muito importantes sim, pois sem elas o sexo se torna algo mecânico e quase sem sentido, mas não é ai que vive o nosso Calcanhar de Aquiles.
Homens, acreditem, se a mulher não estiver na sintonia sexual necessária, nada do que você faça terá o poder de despertar desejo nela, nada mesmo! Claro que, se ela gostar de você, ou se estiver a fim de te conquistar, ou mesmo se ela se sentir na obrigação de te satisfazer, ela vai dar o que você quer, algumas, de um jeito bem sem graça, outras com um pouco mais de teatro, ela fará o que for necessário para que sua experiência seja agradável, mas o prazer de verdade, aquele de deixá-la de pernas bambas, chamando urubu de meu louro, é diretamente proporcional a sua sintonia e predisposição para o sexo.
A cavidade vaginal é como a entrada de uma caverna, ela pode ser uma caverna comum como qualquer outra, mas se você souber fazer o feitiço certo, ao adentrá-la ela estará tomada por um campo sensível, de uma energia mágica chamada libido e aí, meus queridos, mesmo que você nem seja "essa coca-cola toda", pode ter certeza que o sexo será gratificante para os dois e você conseguirá satisfazê-la sem precisar de muitos malabarismos. Por outro lado, se você não tiver uma varinha de condão e não souber fazer o feitiço certo, não há pirotecnia preliminar no mundo, que vá ser capaz de fazer com que sua parceira tenha um orgasmo legítimo, daqueles dos bons.
É obvio que nenhuma mulher é de borracha e que em todas as ocasiões, a maioria sente algum prazer durante o sexo, mas, sem isso de que estou lhes falando, será sempre aquela coisinha modesta, bem a título de praxe.
A essa altura, imagino que vocês devem estar se perguntando: mas que raio de feitiço é esse de que essa doida está falando? E como fazer isso? Eu explico, mas não é tão simples.
Há uma série de fatores que influenciam as mulheres na questão do desejo sexual, e não há uma fórmula que se possa ensinar com um resumo de meia dúzia de palavras. Tentarei enumerar algumas questões fundamentais aqui, embora cada mulher tenha as suas peculiaridades e por tanto, sejam diferentes umas das outras.
1°- A questão da afetividade é sempre importante. Quando uma mulher está com alguém por quem ela tem sentimentos, as chances da “sua caverna ser enfeitiçada” são infinitamente maiores.
2°- Apesar do ponto acima ser relevante, isso não quer dizer que as mulheres sintam desejo apenas por homens a quem elas amam, ou por quem estejam apaixonadas, se alguém disser isso, não acredite, é só seu senso de moralismo barato tentando preservar uma reputação ilibada. Dai podemos tirar duas conclusões: primeiro que estar apaixonada pelo parceiro não é condição fundamental para que a mulher sinta desejo por ele, e segundo que: Somente ser apaixonada pelo parceiro não garante que a mulher vá sentir tesão por ele o tempo todo..
3°- Se a mulher não estiver psicologicamente predisposta ao sexo, naquele momento, preliminares forçadas não vão despertar sua libido, ao contrário, isso à irrita e afasta ainda mais as chances do sexo ser prazeroso para ela, não passando apenas do um cumprimento de dever conjugal.
4°- Quando uma mulher está focada em alguma outra coisa, como problemas familiares, financeiros, de saúde ou de qualquer outra natureza, a probabilidade da sua mente se predispor para o sexo é bem pequena. Isso não acontece apenas com mulheres frias, ou porque elas não sentem mais desejo pelo parceiro, não é nada disso. A questão é que, assim como os homens, nas funções cotidianas só conseguem se concentrar e desempenhar uma atividade de cada vez, nós mulheres, nas questões psicológicas também só conseguimos nos concentrar em uma coisa de cada vez. Na maioria das vezes conseguimos dividir o tempo e no decorrer do dia, tirar algumas horas para cada coisa, porém, se os problemas forem um pouco mais complicados, nem sempre conseguimos nos desligar deles. Isso não é algo voluntário, somos capazes de falar ao telefone e digitar um texto no mesmo momento, mas não somos capazes de nos sentirmos dispostas para o sexo ao mesmo passo em que nos afligimos com um filho doente. Esse é apenas um exemplo de situações que inibem a nossa libido no dia a dia e que os homens não conseguem compreender.
Até aqui, falei sobre coisas que dificultam o despertar do desejo feminino, agora vou falar sobre o que pode facilitar bastante o “enfeitiço da caverna”.
5°- Perceber o desinteresse do parceiro por um tempo prolongado é uma das coisas que despertam na mulher a vontade de procurá-lo. Sei que isso pode parecer estranho, mas é real. Tente ficar três ou quatro noites sem mexer com sua parceira e é bem provável que ela vai procurar você. Mulheres têm a necessidade de se sentirem desejadas, mas se você à deseja o tempo todo, ela entra numa zona de conforto, porém, se qualquer coisa mudar, ela também muda e o desejo reaparece. Mulheres não gostam de coisas repetitivas demais, aquilo que se faz todo dia, o tempo todo, cansa, mas se você souber dar pequenas pausas, a qualidade vai compensar a falta de continuidade na vida sexual de vocês.
6°- Pelo ponto acima, é fácil deduzir que mulheres sem sexo por um tempo prolongado ficam mais sensíveis a estímulos sexuais, ou, como estou me referindo nesse texto, com “a magia da caverna” à toda prova.
7°- Há casos e casos, por isso eu disse que as mulheres não são iguais e que as situações também não são iguais. Há casamentos de muitos anos que já perderam todo o seu teor sexual e que dificilmente o tempo vai fazer com que o desejo da mulher seja reavivado. Casos em que já se fez tanto e tantas vezes, que elas já não conseguem sentir mais nada mesmo. O feitiço acabou e sua “caverna” agora é só uma caverna comum, sem nenhuma magia. Se houver sentimentos na relação, sobrará o companheirismo e de vez em quando a mulher se esforçará para satisfazer o parceiro, mas a esse ponto, é possível que até ele já não esteja mais na mesma vibe. Nesses casos, somente o diálogo poderá ajudá-los a encontrar uma solução, o que posso deixar como conselho é que tentem usar as velhas estratégias, como procurar o ponto G; desenvolver preliminares mais elaboradas; usar aqueles brinquedinhos de sexshop, viajar, enfim, qualquer coisa que os ajudem a re-enfeitiçar a velha caverna, mas nunca se esqueçam que o feitiço não é fisiológico, é psicológico e vocês precisam saber identificar o momento certo, e o jeito certo de trazer a magia à tona. Se vocês querem satisfazer suas parceiras, se querem mesmo que a relação sexual não se transforme em uma obrigação cotidiana para ela, saibam compreender. Não é porque vocês homens estão todo dia, o tempo todo, prontos e dispostos a gozar, que nós, mulheres, temos que ser iguais, porque nós não somos. Então, respeitem isso e vocês poderão até não ter sexo na quantidade sonhada, mas terão sempre com a qualidade desejada.
Ana Campos.
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