por Igor Veiga (PERIGOR)
Se analisarmos a fundo a história da humanidade, veremos que muitas das maiores invenções e intervenções partiram de dificuldades que ilustravam o dia a dia de nossos antepassados. Podemos imaginar que dentro das possibilidades de necessidades humanas, uma das que por vezes pode ter passado – e ainda passa – despercebida é a que se refere à aprendizagem e em especial a de surdos.
Existem registros datados desde a Pré-História até nossos dias atuais. Ao longo desta linha temporal podemos aferir que em registros bíblicos e na Antiguidade, por vezes os surdos foram adorados, vistos como privilegiados e em outras eram assimilados a uma possível representação de um castigo divino, como sujeitos sem direito à vida.
Já foram até mesmo proibidos de casar com outra pessoa que fosse surda na época da Idade Média, na Europa, sendo negado a estes inclusive o direito de participar em atividades da igreja ou mesmo de receber heranças.
Por volta da Idade Moderna, alguns pensadores discutiam a possibilidade do surdo pensar, escrever ou até mesmo de utilizar a língua de sinais.
Todavia, foi somente a partir de 1960 que, após muito tempo de luta por parte dos surdos, surgiram diversos modelos educacionais para os mesmos, adotados em escolas de surdos ou com surdos incluídos.
Dentre estes métodos, podemos destacar o Oralismo e a Comunicação Total.
Estes métodos apresentam a mistura de duas línguas de modalidades diferentes (viso-espacial e oral) o que, por sua vez, resultou no português sinalizado e acarretou graves dificuldades no letramento e alfabetização dos surdos.
Esta proposta Bilíngue, parte do pressuposto, portanto, de que o surdo é um sujeito bilíngue, sendo a L.S. (Língua de Sinais) sua primeira língua e a língua do seu país a segunda língua.
Há avanço ao deslocar a identidade de “deficiente” para um sujeito com características culturais específicas. O discurso da diferença cultural neste contexto ganha dimensão e possibilita pensar o surdo, não como uma deficiência, mas como uma diferença.
Apesar desta mudança a princípio ser positiva, sabemos que no tocante à Educação nenhum processo se encerra em si, pois estamos sempre em uma espiral de constante evolução de saberes.
Seja um saber empírico ou um saber científico, temos que estar preparados para nos adaptarmos a possíveis mudanças que possam vir a ocorrer. Dessa forma, não há aprendizado/conteúdo/conceito estanque, uma vez que novas ideias vão surgindo ao longo do tempo, pelos mais diversos motivos.
Nesse interim, percebemos que há tempos existe a necessidade de tentar entender o modo como o aprendizado é concebido e paralelamente a isso, como o ser humano se desenvolve e mais ainda: que existam políticas públicas que dialoguem com as perspectivas dos alunos surdos; que toda a necessidade apresentada não esbarre em burocracia, que escolas especializadas tenham infraestrutura adequada e profissionais realmente capacitados para preparar estes alunos para o convívio social, vislumbrando assim, portanto, o gozo pleno da cidadania, da autonomia e da satisfação pessoal.
Por mais que possa parecer utopia, é direito de todos o acesso a uma educação transformadora e de qualidade. O silêncio da inclusão é mais assustador do que o silêncio propriamente dito...
Igor Veiga (PERIGOR)
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